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    PVC - Marcelo Quaz

    O clássico

    26/10/2014 02h00

    Alfredo Relaño é um jornalista espanhol, diretor do diário "AS" e autor do livro "Nacidos para Incordiarse", sobre a história de Real Madrid x Barcelona. Questionado sobre a razão de o clássico ter superado em importância todos os dérbis da Europa para se tornar o maior jogo do futebol mundial, Relaño afirmou nesta semana: "É por causa dos direitos de transmissão de TV."

    O Liverpool é quem mais recebe da TV na Inglaterra: 122 milhões de euros na temporada 2013/14. Real e Barça ganham 20 milhões por ano a mais. Na Inglaterra, a distância para quem ganha menos é de apenas 50 milhões de euros. Na Espanha, são 120 milhões de diferença!

    O resultado é o equilíbrio da liga inglesa e o desequilíbrio da espanhola. A Inglaterra tem o melhor campeonato do mundo, mas a Espanha tem o melhor jogo: Real x Barça.

    Em 11 dos últimos 20 clássicos espanhóis, o Real Madrid era líder e o Barcelona vice-líder, ou o inverso. Em 19, um deles estava em primeiro lugar. Se você não gosta do jogo, mas se interessa pela disputa do título, quer ver Barcelona x Real Madrid. Se não liga para o campeonato, mas gosta do espetáculo, Real x Barça também.

    No Brasileiro, nenhuma vez nos últimos dez anos um clássico foi disputado pelo líder contra o vice-líder. Nem Corinthians x Palmeiras, nem Flamengo x Vasco, nem Grenal nem Atlético x Cruzeiro.

    Que Real Madrid x Barcelona se transformou no maior jogo do planeta é óbvio. Há dez anos, não era. Você poderia preferir Milan x Inter, Manchester United x Arsenal... Os espanhóis não são estrategistas, mas planejaram isso. A justificativa para o desequilíbrio das cotas de TV é ter a dupla com boas chances nas disputas internacionais.

    De cada mil euros produzidos na Espanha, um tem a ver com Barcelona e Real Madrid. Para o campeonato, essa hegemonia é péssima. Mas quantas pessoas que você conhece foram ou pensam em ir a Madri ou à Catalunha por causa de futebol?

    E quantos garotos no Brasil dizem torcer pelo Barcelona em vez do Palmeiras? Até o Clóvis Rossi já disse.

    Chama-se globalização e não é necessariamente bom. No Brasil, ninguém deve querer um desequilíbrio tão grande, mas o inverso, a divisão de forças entre os grandes clubes, é capaz de fazer um campeonato que algum louco por futebol queira ver na Europa. Na Espanha até. Quem sabe algum velho torcedor do Sevilla ou do Athletic Bilbao que não aguente mais ouvir falar em Real Madrid e Barcelona.

    Aqui e no mundo, cada dia mais queremos ver el clásico. Em 23 de março, 4% dos domicílios brasileiros com TV por assinatura assistiram a Barcelona x Real Madrid. Ao mesmo tempo, 13% das residências –com ou sem cabo– assistiam a Santos x Palmeiras. A concorrência é invisível, mas cada dia mais presente.

    A que jogo, afinal, seu filho fez questão de assistir ontem?

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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