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    O apelido morreu

    25/01/2015 02h00

    O mestre Armando Nogueira definiu as qualidades de Ademir da Guia com uma frase genial: nome, sobrenome e futebol de craque. A referência evidente era ao gênio Ademir de Menezes, a quem seus pais homenagearam no batismo. E ao sobrenome familiar mais imponente de todos os tempos. Ademir da Guia jogou no Bangu e no Palmeiras; Domingos atuou no Bangu, Vasco, Corinthians, Flamengo, Boca Juniors, Nacional de Montevidéu...

    Dos primeiros chutes no século 19 até duas décadas atrás, juntar nomes e sobrenomes não representava o melhor jeito de nomear um craque. Pelé, Zico, Didi, Jairzinho eram muito mais sonoros.

    A Copa São Paulo de futebol júnior, decidida hoje por Corinthians e Botafogo-SP, e a seleção de Alexandre Gallo no Sul-Americano sub-20 mostram a mudança. Dos 11 titulares corintianos na semifinal, nove tinham nomes compostos: Caíque França, Léo Príncipe, Pedro Henrique, Rafael Augusto, Guilherme Arana, Matheus Vargas, Matheus Cascini, Gabriel Vasconcelos e Gabriel Tocantins.

    Talvez seja fruto de uma geração que cresceu ouvindo Legião Urbana cantar "meu filho vai ter nome de santo"... Gabriel é bem bonito mesmo e tem outro no Palmeiras. Mas o Gabriel Jesus do Palmeiras é chamado pelos colegas de Borel, referência à semelhança com o MC Nego do Borel.

    Não está em questão se é boa, média ou ruim a referência. O pecado é matar o apelido.

    O lateral Foguete, ex-Vasco, chegou ao sub-20 do São Paulo e mudou de nome. Agora é Wellington Cabral. O Brasil descobriu Cabral e perdeu a graça como apelidava seus craques quando ganhava tudo.

    Não se trata de fazer um estudo sociológico sobre o desaparecimento dos epítetos e apelidos do país. Por aqui, o José do açougue sempre foi "seu" Zé.

    Em novembro passado, o presidente do Palmeiras ouviu o lamento sobre o menino Borel ser chamado de Gabriel Jesus, com a observação de que os gols de Pelé seriam de Edson Nascimento no século 21. Respondeu: "Pelé seria vencedor do mesmo jeito!"

    É provável.

    É mais importante entender por que o talento anda mais escondido do que discutir o nome, o sobrenome ou o apelido. Entender por que o Brasil de Thiago Maia, Lucas Evangelista, Marcos Guilherme e Nathan Cardoso perde do Uruguai e ganha apertado da Venezuela no Sul-Americano sub-20.

    O futebol brasileiro não é tão forte quanto no passado. Também não é tão lúdico.

    BOBAGEM DA FIFA

    O prêmio da Fifa mudou uma regra simples e se tornou o troféu da patriotada. Antes, os técnicos e capitães não podiam votar em seus compatriotas. Agora, todos votam. Só Itália e Uruguai (Antonio Conte, Oscar Tabares, Diego Godin e Gianluigi Buffon) votaram sem puxar a sardinha para seus amigos. A credibilidade vai passar longe daqui a alguns anos.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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