• Colunistas

    Tuesday, 07-May-2024 00:36:58 -03
    PVC

    Feitiço do tempo

    21/06/2015 02h00

    O Brasil perdeu da Colômbia por 1 a 0 e, no jogo seguinte, os jogadores decidiram não conversar com a imprensa. Não estamos falando da partida de hoje, contra a Venezuela, mas de 30 anos atrás. A primeira derrota da história para os colombianos foi tratada como vexame, em 1985, e o cardápio das críticas era semelhante ao atual.

    Sempre é.

    Dizia-se que aquela seleção não tinha carisma nem futuro sem a volta dos "estrangeiros" Zico, Falcão, Sócrates e Cerezo. O time criticado e derrotado pela Colômbia tinha Carlos, Édson, Oscar, Mozer e Branco; Jandir, Geovani e Casagrande; Jorginho, Careca e Mário Sérgio.

    Bebeto entrou no segundo tempo no lugar de Jorginho. Na escola, no dia seguinte, os colegas diziam que Bebeto não podia jogar na seleção brasileira.

    Juro por Deus!

    O Brasil perdeu do Chile, o técnico Evaristo de Macedo foi substituído por Telê Santana, os estrangeiros voltaram e o Brasil se classificou para a Copa empatando com o Paraguai no Maracanã e com a Bolívia no Morumbi –venceu as duas fora de casa.

    É óbvio que a situação atual não é igual, porque há um ingrediente inédito em todas as crises da seleção brasileira: o 7 a 1. Mas o 'script' é sempre parecido quando o Brasil muda de time.

    Com um ano de distância, a seleção teve só três jogadores iguais na derrota de quarta-feira para a Colômbia. Esse eterno recomeçar cria a ideia da seleção de desconhecidos e sem carisma.

    A comparação com gerações do passado sempre aparece. No saguão do hotel onde a seleção está hospedada em Santiago, um jornalista comparou a geração atual com a de 2002: "Tinha Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho, Cafu, Roberto Carlos, Kaká começando..." Pura verdade. Um ano antes, a seleção perdeu de Honduras com Luisão, Cris, Belletti, Eduardo Costa e Guilherme, como centroavante.

    No dia seguinte à eliminação da Copa América de 2001, com derrotas para México e para Honduras e vitórias pálidas contra Peru e Paraguai, o futebol brasileiro parecia ter acabado.

    Onze meses depois, o Brasil foi campeão mundial.

    É óbvia a necessidade de discutir o que se passa no futebol brasileiro. Um dos ingredientes mais úteis para esse debate é o que mais falta nas crises: calma.

    Hoje a seleção joga contra a Venezuela com um único sobrevivente do 7 a 1. Só Fernandinho –Thiago Silva e Neymar não jogaram a tragédia. Se dez titulares mudaram em 11 meses, é claro que o time não está pronto.

    A seleção reinicia o trabalho pela quarta vez em dez anos. Também por causa disso, é indiscutível que a Colômbia é melhor do que o Brasil em termos coletivos. Só vai ser diferente com a construção de um time. Aí é capaz de se descobrir que Neymar tem bons parceiros, como meus colegas do colégio perceberam que Bebeto podia jogar pela seleção brasileira.

    pvc

    pvc

    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024