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    O fantasma do êxodo

    05/07/2015 02h00

    O salário oferecido pelo Santos para tentar segurar Robinho não era ruim. Qual brasileiro recebe R$ 800 mil mensais? Mesmo assim, é impossível atacar a opção do atacante, de receber R$ 41 milhões na mão e jogar quatro anos na China.

    O São Paulo não tinha escolha, a não ser abrir mão de Souza, horas antes de entrar em campo contra o Atlético-PR. O contrato dava 50% ao agente Carlos Leite e exigência de venda se houvesse proposta a partir de 8 milhões de euros. Tinha de vender.

    Mas as negociações mudam a cara do Brasileiro. O início da história dos pontos corridos foi em 2003, com a soma de dois turnos desiguais. A janela de transferências mais forte da Europa, entre julho e agosto, transformou todos os times.

    O Cruzeiro foi campeão e vendeu cinco jogadores durante a campanha. Dos titulares, o zagueiro Luisão foi para o Benfica e o atacante Deivid para o Bordeaux.

    O São Paulo anunciou a venda de Kaká para o Milan quando estava em terceiro lugar, dois pontos atrás do Cruzeiro. Terminou 23 pontos atrás –ainda em terceiro.

    Naquele ano, 60 jogadores saíram durante a Série A para o exterior. Em 2005, o número subiu para 62, mas caiu para a casa dos 40 a partir de 2006. A enxurrada de dinheiro de TV –mal aplicado– fez diminuir o êxodo e muito mais o seu impacto no resultado final do campeonato.

    O Santos perdeu Robinho na 22ª rodada de 2005. Estava em segundo lugar, com os mesmos 39 pontos do líder Corinthians. Terminou na 10ª posição e levou 7 a 1 do rival.

    Em 2009, o Flamengo contratou Adriano e Petkovic com o Brasileirão em andamento. Os dois só jogaram juntos, como titulares, a partir da 17ª rodada, quando o rubro-negro era 11º. Terminaram campeões.

    Tinha melhorado.

    Uma parte importante da recuperação do futebol brasileiro passa por jogadores que acreditem ser possível jogar um campeonato de alto nível aqui.

    Mas como se, no terceiro mês do torneio, o São Paulo já perdeu quatro jogadores, o Corinthians cedeu Petros para o Betis e Fábio Santos para o Cruz Azul, mesmo clube que tirou Guilherme do Atlético-MG, se o Fluminense vendeu a revelação Kenedy para o Chelsea, Robinho vai para a China, Valdivia para os Emirados Árabes...

    Não existe mais nenhum Kaká indo para o Milan nem Robinho para o Real Madrid, como no início dos pontos corridos. Alguns dos que se vão fazem falta pelo talento, outros só porque os times se desmontam –é muito mais difícil fazer bons jogos sem equipes estruturadas.

    A inversão do calendário, com jogos de agosto a maio, atenuaria o impacto do êxodo no Brasileirão.

    E não pode ser só isso.

    Ou o Brasil constrói um campeonato forte –a seleção é consequência– ou vamos assistir futebol pela TV pelo resto da vida.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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