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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Meu manto sagrado

    04/10/2015 02h00

    O São Paulo viajou à Itália em 1984 para um amistoso contra a Roma e, no vestiário do estádio Olímpico, teve uma surpresa. Ao abrir o pacote com seus uniformes, o chefe da delegação, Constantino Cury, não viu nenhuma camisa com as tradicionais listras tricolores no peito.

    Por engano, a Le Coq Sportif, fornecedora do material, enviou camisetas iguais às do Fluminense, inteiramente brancas e com o escudo do São Paulo do lado esquerdo, não no centro do peito.

    Deu crise. "Conselheiros telefonaram na mesma hora, perguntando qual a razão daquele uniforme", conta o presidente Carlos Miguel Aidar, mandatário também naquele 20 de agosto.

    O São Paulo perdeu por 2 x 1 e nunca mais jogou de branco sem as listras tricolores no peito.

    O mundo mudou. Hoje, o Palmeiras pode enfrentar a Chapecoense de prateado e o Corinthians usar cor de terrão contra a Ponte Preta.

    O alaranjado alternativo do Corinthians poderia representar qualquer coisa. Por exemplo, os dez anos do título de 2005 com Kia Joorabchian no comando. Ou qualquer dirigente laranja do mundo do futebol.

    As camisas de cores diferentes da tradição são normalmente lindas, mas deveriam ser usadas com moderação, como na Europa.

    O Real Madrid jogou de rosa no ano passado. Mas dentro de sua casa, diante de sua torcida, nunca! Se você for a uma loja na Inglaterra comprar uma camisa de qualquer clube, vão perguntar se deseja o modelo home ou away. A tradicional, para jogos em casa, ou a alternativa.

    Isso também mudou um pouco. O Barcelona joga sempre de azul e grená no Camp Nou, mas neste ano inventou camiseta de listras horizontais, em vez de verticais. É belíssima. Só não é do Barcelona.

    O São Paulo lançará sua camisa número 3, contra o Vasco, dia 18 de outubro, no Morumbi. "Nosso conceito é estrear em casa e depois usar como visitante ou em ocasiões festivas", afirma o diretor de marketing, Douglas Schwartzmann. Tem de ser assim.

    No ano passado, havia palmeirenses com saudade de ver o time de camiseta verde, calção branco e meia verde, sem detalhes em vermelho, azul nem verde-limão.

    É o rosto do clube.

    No Corinthians, foi o ex-presidente Mario Gobbi quem pediu à Nike a camisa branca com frisos pretos, igual ao uniforme reserva de 1971. "Eu via o Rivelino assim", dizia.

    A camisa 2 dos anos 70 virou a titular em 2013 e, por dois anos, o Corinthians não conseguiu jogar de branco em casa contra times listrados, como o Atlético-MG.

    O torcedor se apaixona pelo time e aprende a torcer, muitas vezes porque gostou da cor, da combinação ou das listras... Fora de casa, vale a ousadia, o marketing, a tentativa de vender mais produtos.

    Em casa, diante da torcida, não custa preservar um pouco da história.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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