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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    O craque e o time

    15/11/2015 02h00

    A maior diferença das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 em comparação com as anteriores é a ambição dos adversários. Líder depois de três rodadas, o Equador esteve em três das últimas quatro Copas. O Paraguai classificou-se para quatro das últimas cinco e o Chile, ano passado, festejou estar presente em duas Copas seguidas pela primeira vez desde 1966.

    Assim como o Brasil não aceita a hipótese de ficar fora, os rivais mais modestos começaram a se acostumar a estar presentes. Não imaginam mais a eliminação.

    Há um agravante.

    A torcida chilena, a paraguaia e a equatoriana sabem que só vão ter chance de estar na Rússia se tiverem equipes sólidas. O Brasil segue julgando que seus jogadores podem resolver jogos individualmente.

    Neymar jogou muito bem pelo Barcelona contra o Villarreal e teve atuação média no empate por 1 x 1 contra a Argentina, em Buenos Aires.

    Há décadas discute-se por que os jogadores de seleções nacionais jogam mais nos clubes do que quando estão em seus países. Essa pergunta perturbou Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Messi...

    A razão é evidente. No clube. tem treino todo dia e jogo pelo menos uma vez por semana.

    Seleção é diferente. Só vai estar montada se jogar com a mesma base duas vezes por mês –vários anos para a repetição transformar-se em bom time.

    O gol de placa de Neymar contra o Villarreal produziu inúmeras perguntas sobre o nível de maturidade do maior craque brasileiro da atualidade. A mais repetida delas envolve a chance de ganhar seu maior prêmio individual. Quando Neynar será eleito o melhor do mundo... blá, blá, blá...?

    Quase não se perguntou se Neymar estará pronto em 2018 para liderar a seleção brasileira ao título mundial?

    Dos craques brasileiros eleitos pela Fifa, Kaká foi o mais sóbrio em seu discurso de posse. Disse que participar de um time estruturado, como o Milan campeão da Champions League em 2007, serviu como trampolim para sua eleição.

    O Barcelona pode alavancar Neymar. Já a seleção só será sua plataforma de lançamento se for campeã em 2018.

    Uma pesquisa do instituto Ibope-Rebucom mostrou que o Barcelona tem 25% da torcida brasileira por um clube estrangeiro. Natural. Dos cinco craques da seleção eleitos pela Fifa, quatro estavam no Barça no ano da premiação, ou um ano antes –Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho.

    O Barcelona é também o clube mais visto pelas medições de audiência das emissoras de TV a cabo no Brasil –ESPN e Fox Sports. Todo mundo quer ver Neymar. Domingo passado, num restaurante carioca, os dois aparelhos de TV estavam ligados em Manchester City x Aston Villa até as 13h. Nesse horário, duas mesas levantaram-se e pediram ao garçom que mudasse o canal. Por encanto, apareceram as camisas azuis e grenás.

    Todo mundo quer ver Neymar.

    Nem todos querem ver a seleção.

    É parte da crise de imagem que acompanha a CBF.

    A secretária eletrônica de Robinho, por vários anos, dizia: "Olá, aqui é o Robinho, o melhor do mundo do ano que vem..." O erro era ter o prêmio de melhor do planeta como objetivo. Precisa ser consequência.

    A pergunta sobre Neymar não é quando ele será o melhor. É se a seleção será capaz de ganhar a Copa de 2018 tendo seu camisa 10 como destaque. Nesse caso, o futebol coletivo se encarregará de elegê-lo, se o Barcelona não tiver resolvido isso antes.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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