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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Um CEO para o Brasil

    17/01/2016 02h00

    Quinze clubes da América do Sul reuniram-se em Montevidéu, terça-feira passada. Em pauta, estava a criação da Liga Sul-Americana de clubes. Não para criar um torneio, mas para cobrar melhorias das disputas organizadas pela Conmebol, mais dinheiro de TV e transparência.

    Sentados à mesa, estavam dirigentes de quatro grandes clubes da Argentina, três do Uruguai e do Chile, dois do Paraguai e do Peru, um do Equador. Nenhum brasileiro.

    Na saída da reunião, o presidente do Peñarol, Juan Pedro Damiani, disse que Corinthians e Atlético-MG não estiveram presentes, mas apoiam o movimento.

    "Tudo o que for para melhorar nosso futebol, estamos dentro", afirmou o presidente do Corinthians, Roberto de Andrade.

    Vai fazer dois meses que Marco Polo Del Nero licenciou-se da presidência da CBF, com um retorno relâmpago ao cargo no início de janeiro, para troca estratégica de seu sucessor.

    Não houve nenhuma reunião e nem sequer uma palavra dita por qualquer presidente de clube sobre o vazio de poder do futebol brasileiro nem sobre o que deve ser feito para gerar mais dinheiro, mais torcida, mais qualidade nas disputas em que os times daqui estão envolvidos, dentro ou fora das nossas fronteiras.

    No início de 2001, quando a seleção estava em crise nas eliminatórias para a Copa de 2002, cogitou-se a contratação de um técnico estrangeiro. Na época, cogitava-se Sven-Göran Eriksson, que dirigia a Inglaterra e fala português.

    O penta mundial adiou o debate, que retornou com o nome de Guardiola, antes da volta de Felipão e logo depois de sua queda.

    Não está em questão aqui o bem ou o mal de ter um treinador de qualquer nacionalidade. O silêncio dos dirigentes é que produz outra ideia. Mais do que um treinador, o futebol brasileiro precisa de um executivo.

    A Premier League tem o seu. Chama-se Richard Scudamore, recebe anualmente R$ 5,5 milhões e retribuiu com a assinatura do maior contrato de televisão para transmitir futebol no planeta.

    A Bundesliga também tem. Chama-se Christian Seifert e seu período como executivo-chefe coincide com o salto da média de público do Campeonato Alemão de 35 mil para 45 mil por partida –hoje estacionou em 42 mil. O Brasileirão subiu 10% e alcançou 17 mil por jogo em 2015.

    A diferença entre ter um executivo conduzindo os interesses do campeonato ou ter um grupo de dirigentes reunidos está em uma palavra: profissionalismo. A Primeira Liga nasceu com o presidente do Cruzeiro no comando e o ex-presidente do Atlético como CEO. Deu briga.

    A Liga Sul-Americana nasceu numa mesa com representantes do Peñarol e do Nacional, do Uuguai, do River Plate e do Boca Juniors, da Argentina. A primeira divergência tem data marcada: a hora de definir quem vai receber mais dinheiro.

    As ligas com dirigentes que participam da vida política de seus clubes patinam. Os passos de formiga dos presidentes dos clubes brasileiros para assumir o comando do Campeonato Brasileiro, enquanto a CBF tem seu presidente licenciado, evidenciam isso.

    A ausência brasileira na reunião de Montevidéu escancara.

    Se depender da ação dos presidentes de clubes do Brasil para mudar qualquer coisa, o país do futebol vai ficar esquecido em algum lugar do passado.

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    pvc

    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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