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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Pelé vale por dois

    07/02/2016 02h02

    Messi marcou três vezes no massacre contra o Valencia, quarta-feira, e alcançou 485 gols na carreira. Cristiano Ronaldo marcou três contra o Espanyol, chegou a 521, e isso produziu manchetes sobre a soma dos gols dos gênios do futebol do século 21. Juntos, chegaram a mil gols no domingo passado –já são 1.006.

    A bola não parou na marca do pênalti do Maracanã para eles, nem os jogos de Real Madrid e Barcelona foram interrompidos para darem volta olímpica com a bola consagrada nas mãos. Messi tem 28 anos e fará o gol 500 antes de seu próximo aniversário. Pelé marcou o milésimo aos 29.

    É claro que é diferente!

    O maior gênio de todos os tempos jogou em outra época. Virou um deus. Ninguém jamais vai recontar a história.

    Imediatamente a soma dos gols de Messi e Cristiano produziu a pergunta sobre o número de jogos. Eles jogam menos vezes do que se fazia no passado.

    Na temporada 1959/60, o Real Madrid foi campeão europeu, vice-campeão espanhol e da Copa do Rei. Disputou 68 partidas. Em 2014/15, Messi ganhou a Champions e disputou 57 das 60 partidas do Barça.

    Não parece muita diferença nesta comparação. Mas contra Pelé...

    Em seu ano mais exigente, o Rei entrou em campo 103 vezes, duas a mais do que o Santos! Fez espantosos 127 gols.

    A média total da carreira de Pelé registra 0,93 por partida. Messi faz 0,78, Cristiano Ronaldo, 0,67.

    Pelé é bem mais do que números. "Era o melhor muito antes de ser e continua sendo mesmo depois de ter sido", escreveu Armando Nogueira.
    Comparar é mania de quem é apaixonado por um assunto –música, cinema, futebol... Ninguém precisa dizer que laranja é mais gostoso do que maçã e a maior parte das pessoas tem as duas convivendo na geladeira. Mas é irresistível discutir Pelé x Maradona, Messi x Cristiano Ronaldo, Senna x Piquet...

    José Trajano tinha a incrível ideia de transformar esses duelos num programa, que teria até nome: Versus. Hoje existe um aplicativo chamado SportsMatch, onde você pode perguntar quem foi melhor: Pelé ou Michael Jordan? Messi ou Zidane?

    Messi é melhor do que Cristiano, mas as imagens diárias flagram todos os seus acertos –e alguns erros. Não ver tudo durante todo o tempo, como na era Pelé, reforçava a divindade. Messi perde pênalti e você sabe disso. A TV ao vivo mata a imortalidade.

    No caso dos mil gols, a questão é Pelé versus Messi e Cristiano. São dois contra um.

    Não é covardia. É uma comparação sobre épocas, uma espécie de "Meia Noite em Paris", onde sempre vai vencer sua memória afetiva.

    Quem tem menos de 18 anos vê Messi e Cristiano Ronaldo destruindo recordes e reforçando a hegemonia de Real Madrid e Barcelona como clubes mais importantes do planeta desde 2009. Quem só viu isso jamais vai aceitar a comparação com Maradona, por exemplo.

    Quando é perguntado sobre Messi e Maradona, o técnico do São Paulo, Edgardo Bauza, ressalta que os defensores do passado davam muito mais patadas. Sem dizer com todas as letras, Bauza expressa mais respeito por Diego. Dá a entender que Maradona apanhava mais e, mesmo assim, jogava muito. Fez 345 gols.

    Pelé fez 1.283. Ele é o melhor!

    Em algumas semanas, Messi vai fazer seu gol 500. O número não diz tudo. Ele não é apenas metade de Pelé.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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