Tite estava indignado há exatamente duas semanas. Foi o dia em que discutiu a gestão de carreira do atacante Malcom, o sexto titular a deixar o Corinthians depois do título brasileiro. Um mês atrás, o título desta coluna érea "desmanche". Ganhar do São Paulo por 2 x 0 com um time todo novo só pode se chamar remonte.
Reconstrução seria uma palavra menos estranha, mas também menos exata. Porque Tite não reconstrói sua equipe. Mantém o sistema tático, o desenho e recoloca jogadores como se fossem peças em um tabuleiro.
Assim Giovanni Augusto entrou pelo lado direito, como Tite já havia anunciado. Não jogou como Jadson. Ainda não. Mas mostrou que pode atuar na mesma função.
André estreou também sem brilho, mas sua presença em vez de Danilo repõe o estilo do ataque campeão brasileiro. André não jogou como Vágner Love dos últimos dias de 2015, só que o Corinthians tem de memória o estilo de centroavante que se mexe por todos os lados. É centroavante, não pivô, como Danilo.
Edgardo Bauza estudou o Corinthians e começou a partida dificultando a saída da equipe de Tite pelos laterais (veja abaixo). Ano passado, o San Lorenzo dirigido por Bauza empatou por 0 x 0 em Itaquera fazendo a mesma coisa.
| Editoria de arte/Folhapress | ||
 |
||
Daquela época para cá, Tite trabalhou para melhorar os passes dos zagueiros e volantes. Bruno Henrique faz bem o primeiro passe, Felipe melhorou muito para fazer a bola sair de sua grande área sem dar um bico para o outro lado e devolver a posse para o adversário.
Até o primeiro gol, o Corinthians teve problemas para sair da defesa para o ataque. Melhorou depois do gol, erro grotesco de Lucão forçado pela pressão depois do recuo errado.
Justamente Lucão, condenado pela torcida são-paulina e que terá muita dificuldade para voltar a ter a confiança da comissão técnica por errar exatamente contra o grande rival. Entendeu por que Edgardo Bauza pede um zagueiro para a diretoria?
Não são apenas novos jogadores de que o São Paulo precisa. Necessita de tempo para formatar um novo jeito de jogar. Hudson definiu o novo treinador como um homem conservador que prioriza a montagem da defesa. Disse que gosta disso.
Pode levar tempo.
Quando Lugano estrear, provavelmente contra o Rio Claro no fim de semana, Rodrigo Caio terá um parceiro mais experiente e seguro. Na hora que acertar a defesa, o São Paulo ainda precisará ser mais agressivo na frente.
Não é possível passar o jogo inteiro contra o Cesar Vallejo e só fazer um gol em cobrança de escanteio a dois minutos do fim e o clássico contra o Corinthians obrigando Cássio a fazer duas defesas e de novo passar em branco.
Fazer gols é exigência na quarta-feira contra The Strongest. Em sua penúltima participação em Libertadores, uma derrota em La Paz quase condenou o tricolor à eliminação na fase de grupos. É necessário vencer no Pacaembu, ainda que o primeiro jogo não tenha o caráter decisivo do Cesar Vallejo.
Bauza também percebeu ontem que é necessário vencer logo no estádio do Corinthians. O São Paulo é o único rival ainda sem triunfos em Itaquera, porque Palmeiras e Santos já ganharam lá dentro. Também é o clube que mais gols sofreu na arena corintiana. Rogério Ceni e Denis já foram buscar a bola naquela rede 13 vezes.
VELHOS ERROS
Marcelo Oliveira não corre risco neste momento, mas o time incomoda muita gente, porque repete os erros do ano passado. Pouca aproximação dos jogadores, raras opções de passe. O River Plate do Uruguai não vai ser um rival fácil na Libertadores.
INTERIOR
Até agora foram treze partidas de clubes grandes contra pequenos no Paulista. Em seis desses jogos, os menores somaram pontos. Melhoraram. Pouco tempo atrás era diferente. Em 2012, a primeira derrota de um grande aconteceu na 13ª rodada.
É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.