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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Não pode sucatear!

    21/02/2016 02h00

    O Fla-Flu de hoje vai acontecer em Brasília e o clássico paulista de ontem foi jogado no Allianz Parque num novo período de sua curta história. A AEG, trazida pela WTorre e anunciada como a maior gestora de arenas do planeta, que cuidaria da hospitalidade e ainda colocaria a nova casa do Palmeiras no mapa mundial dos shows, dá sinais de que pode ir embora do Brasil.

    Nesta semana, anunciou a ruptura do contrato com a WTorre. A construtora tem dívidas com fornecedores do Allianz Parque e há relatos de falta de vidros em alguns camarotes.

    O Maracanã não recebeu nenhum jogo neste ano. Foi palco de festas no Carnaval e será de shows dos Rolling Stones e Coldplay.

    O Maracanã justifica ter solicitado dois jogos para manutenção do gramado e que não havia tabela do Estadual no Carnaval, razão pela qual houve os bailes. Diz também que não havia uma data formal para a entrega para o Comitê Olímpico. Agora há. Quarta-feira, o comitê definiu que o Maracanã fecha em 1º de março para a Olimpíada e só reabre em 30 de outubro.

    Menos de dois anos depois da Copa, o Brasil começa a correr o risco de perder o único legado que sobrou: os estádios. Por mais de 20 anos, a crítica severa apontava os palcos brasileiros como poleiros. O torcedor era tratado como gado, sentado no cimento, exposto ao sol, à chuva e às vezes até à urina que vinha dos degraus de cima das arquibancadas.

    Quando os novos estádios surgiram, outras vozes –às vezes as mesmas de antes– ergueram-se para dizer que tinham perdido a alma. Bobagem! Itaquera e Allianz Parque ganharam público numeroso. No Beira Rio, Arena do Grêmio e Mineirão não há lotação sempre, mas existe muito mais razão para convidar você a sair de casa e passar uma tarde feliz num campo de futebol.

    Mas há uma chance gigante de o Maracanã voltar a ser administrado por um governo estadual que não consegue resolver os problemas da saúde.

    E mais: o Grêmio está até o pescoço com as prestações da Arena; o Corinthians ainda precisa anunciar os naming rights; a dívida da WTorre faz cair o número de empresas dentro do Allianz Parque.

    "Se as operações forem feitas por quem negligencia a complexidade da manutenção, os estádios podem estar sucateados em três anos", diz o presidente do Maracanã, Sinval Andrade.

    Ele se refere a ter estádios de primeiro mundo que demandam esforços muito maiores do que os velhos poleiros. Quem negligencia a complexidade defende a retirada das cadeiras da arquibancada. Pelo amor de Deus! Não é isso.

    As cadeiras não atrapalham quem quer pular. São retráteis. Basta levantar e elas se levantam também, para quem quiser ficar em pé no cimento. Mas quem quiser conforto pode sentar-se sem gastar a bunda no cimento sujo.

    Neste ponto é importante deixar claro: quem quer as coisas como eram no passado é conservador. Não existe outro nome.

    Os estádios novos continuam lindos, não precisam ser chamados de arenas e ainda podem ajudar no necessário renascimento do futebol brasileiro. Mas estão ameaçados. O Brasil não terá o Maracanã neste ano, exceto na Olimpíada. A WTorre precisa cumprir sua parte e manter o Allianz Parque como o estádio espetacular que se tornou.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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