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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Braço de ferro

    22/02/2016 02h00

    O Brasil nunca deu bola para esse negócio de capitão. Os ingleses contam o número de partidas que cada um usou a braçadeira.

    Billy Wright e Bobby Moore lideraram o "English Team" 90 vezes. No Brasil, Carlos Alberto é chamado de capita, Cafu é o capitão do penta, Dunga xingou a taça, mas ninguém sabe quantas vezes cada um vestiu a braçadeira.

    Não que os jogadores deem de ombros para isso. Nem os técnicos ignoram a importância do líder. No meio da crise entre Lugano e Michel Bastos, Edgardo Bauza decidiu que o goleiro Denis seria o capitão. Usou a braçadeira ontem, mas o braço de ferro dos líderes pode continuar.

    "O problema está superado", diz o vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro.

    Digamos: a diretoria trabalha para isso, mas a questão não está resolvida. O São Paulo venceu o Rio Claro por placar magro e jogando mal. Apenas atenuou sua crise. Ou melhor, suas crises.

    Hoje há três crises diferentes.

    A mais grave é a de desconfiança. Os jogadores decidiram fazer greve de silêncio depois da derrota para o Strongest, porque não confiam na diretoria –herança de Carlos Miguel Aidar.

    No ano passado, a direção dizia que pagaria atrasados no dia tal... e nada de voltar a olhar nos olhos dos jogadores, nada de resolver o problema.

    Jogador de futebol é artista com história de operário. A vida de suas famílias ensina a desconfiar do patrão. Se você não disser a verdade, se não cumprir o que prometeu, será difícil recuperar a confiança.

    Mesmo assim, os jogadores confiam que receberão o pagamento devido no dia seguinte à assinatura do novo contrato de TV. Confiam desconfiando...

    Esta primeira crise gerou a segunda, de liderança. Os sobreviventes do ano passado, como Michel Bastos e Ganso, não confiam cegamente no discurso de Leco, Gustavo de Oliveira e Ataíde Gil Guerreiro.

    Lugano jogou no São Paulo em outra vida. Era um dos líderes de um elenco que tinha razão para acreditar na direção. O capitão sem braçadeira segue sendo crente.

    Mas o elenco dividiu-se.

    A terceira crise é técnica, a mais óbvia e a mais fácil de se corrigir, desde que exista paz para fazer o trabalho.

    O São Paulo era um time que buscava o ataque. Bauza agora aposta na montagem do time a partir da defesa.

    O treinador está certo, mas mudar o jeito de jogar dá trabalho.

    Na defesa, contra o Rio Claro, Rodrigo Caio foi à caça e Lugano ficou na sobra. Aos 27 minutos, Hudson foi batido por Romarinho e Lugano, na cobertura, também foi driblado. Aos 35 anos, não poderia estar perfeito no primeiro jogo.

    Na vitória de ontem, salvaram-se as bolas paradas, ensaiadas cuidadosamente por Bauza. A cobrança de falta de Carlinhos tornou-se gol de Rodrigo Caio. Os treinos exaustivos ajudaram a dar a vitória, que pode oferecer tranquilidade, matéria prima indispensável para a reconstrução.

    São sete partidas oficiais do São Paulo em 2016 e apenas três sem sofrer gol –Rio Claro, Água Santa e Cesar Vallejo. O índice é péssimo levando em conta um trabalho que prioriza a montagem defensiva. Mas é justo imaginar que há tempo para estruturar uma equipe que só poderá ser campeã a partir de maio.

    Campeão em fevereiro, só escola de samba.

    CENTURIÓN

    A pergunta que continua sem resposta é: por que Centurión não é barrado. A explicação da comissão técnica são-paulina é tática. Diferentemente de Rogério, o argentino volta para ajudar a marcar, como mostra a ilustração.

    Editoria de Arte/Folhapress

    MAIS BOLA

    O discurso dos jogadores do Palmeiras é de que o time está melhorando e já tem mais posse de bola. Ainda é pouco. Contra o Santos, no sábado (20), a equipe jogou mal de novo. Mas relacionamento não é o problema.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
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