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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Espelho do Brasil

    20/03/2016 02h00

    Futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais do que isso (Bill Shankly, técnico do Liverpool entre 1959 e 1974)

    O novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, anunciou o pedido de indenização aos envolvidos nos escândalos de corrupção. Do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, cobra 1,6 milhão de dólares. A punição por manchar a imagem da Fifa ficou meio escondida no noticiário por causa da semana cheia na política mais séria, a do país. Mas também causou rebuliço na política do futebol.

    Dois anos atrás, Carlos Alberto Parreira blasfemou ao dizer que a CBF é o Brasil que funciona. O país ainda parecia andar para a frente, enquanto a bola só corria para trás. Hoje é incrível como o jogo dos bastidores se assemelha, seja em Brasília, seja na Barra da Tijuca.

    O comando está ameaçado de ser impedido, por uma canetada definitiva da Fifa que proíba Marco Polo Del Nero de atuar em qualquer setor ligado ao futebol. A oposição não tem credibilidade. Os clubes patinam na decisão de tomar as rédeas e organizarem eles mesmos o Brasileirão, num formato de liga, com comando executivo e setores estratégicos gerenciados de modo empresarial. "Os dirigentes de clubes só brigam entre eles e olham apenas para seus clubes. Não enxergam além do próprio umbigo. Vai ser pior se assumirem", disse em off o presidente de uma federação estadual nesta semana.

    As federações são uma espécie de PMDB. Orgulham-se envergonhadamente do poder, observam à distância a possibilidade de queda e não articulam o futuro, indecisos entre o almoço com o presidente e o jantar com os clubes.

    Os vice-presidentes da CBF, todos representantes de suas federações estaduais, reuniram-se em janeiro em São Paulo e deram um prazo para a definição. Marco Polo Del Nero teria três meses para voltar à presidência ou três dos cinco vice-presidentes renunciariam –Gustavo Feijó, Delfim Peixoto e Marcus Vicente. Em tese, isso forçaria também a renúncia de Fernando Sarney, cuja vida privada impede de assumir a CBF, e isolaria o coronel Nunes, o presidente interino. A estratégia foi acertada para forçar Antônio Carlos Nunes à renúncia e convocar novas eleições para a presidência da CBF.

    Dias depois do acordo e do prazo dado para a definição da situação política da CBF, as vozes começaram a mudar de tom. Delfim Peixoto já declarou publicamente que não renunciará jamais. Os articuladores do acordo de janeiro julgam muito menos provável a renúncia coletiva hoje do que parecia em janeiro.

    Pior do que a manutenção de um governo acusado de corrupção, que jura inocência com gritos no vazio, é a absoluta incerteza sobre o futuro.

    Estamos falando só de futebol, lembre-se.

    Mas a bola imita caprichosamente o nosso cotidiano, com a indiscutível diferença de que os fatos do dia a dia, para muita gente, são absoluta questão de vida ou morte.

    FLA-FLU NO PACAEMBU

    É capaz de o Fla-Flu levar mais gente ao Pacaembu do que São Paulo x Palmeiras. Não será símbolo de sucesso nem de fracasso. Apenas um exemplar do ex-país do futebol. Aqui, não atrai a rotina das rodadas, como na Europa. O inusitado, sim. O Fla-Flu de hoje é uma espécie de show do Maroon 5 com bola rolando. Semana que vem não tem mais.

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    pvc

    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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