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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    O homem que demitiu Tite

    03/04/2016 02h00

    Salvador Hugo Palaia era o diretor de futebol do Palmeiras em 2006 e nem desconfiava que Tite se transformaria no melhor técnico do país.

    Depois de uma derrota para o Santa Cruz, no Recife, Palaia foi responsável por uma decisão que, se não fosse tomada, poderia interferir nos destinos dos dois rivais do clássico de hoje: demitiu Tite.

    O treinador do Corinthians trabalhou no Parque Antarctica por 20 rodadas do Brasileirão.

    Muita gente não se lembra. Palaia, sim: "Ele evoluiu muito, inclusive depois de eu tê-lo mandado calar a boca."

    Tite participará de seu 15º dérbi hoje à tarde. Ganhou oito, empatou quatro e só perdeu um, pelo Corinthians. Pelo Palmeiras, disputou só um. Venceu por 1 x 0. Três meses depois da vitória, caiu.

    "Eu estava na antessala do vestiário depois de uma derrota para o Santa Cruz. Tite reclamava muito. Era sempre o juiz ou o bandeirinha a razão das nossas derrotas. Ouvi as reclamações e, conversando com alguém, eu disse: 'Ah, manda ele calar a boca.' Um repórter ouviu e me questionou. Respondi que calar a boca tinha sido muito forte. Digamos que eu o mandei fechar a boca", lembra Palaia.

    O técnico ficou sabendo e não gostou. No aeroporto dos Guararapes, no Recife, Tite procurou Palaia e disse ao dirigente que nem seu pai o tratava daquela maneira.

    A versão de Tite é que pediu para deixar o cargo. Palaia admite tê-lo demitido.

    Depois que Tite saiu do Palmeiras, o Corinthians trocou de treinador oito vezes, mas repetiu Mano Menezes e Tite e conseguiu estabilidade. O Palmeiras trocou o técnico 13 vezes.

    "Eu não teria dispensado o Marcelo Oliveira. Trocamos demais", diz Palaia.

    Apesar do excesso, o equilíbrio prevalece nos dérbis. A lembrança do ano passado é melhor para o Palmeiras do que para o Corinthians. Uma vitória corintiana e um empate no Allianz Parque, outro empate e uma vitória verde em Itaquera.

    Hoje o jogo será no campo neutro do Pacaembu, onde o Corinthians não perde para seu rival há 14 jogos, com oito vitórias e seis empates.

    O último triunfo palmeirense, em setembro de 1995, foi numa época contrastante com a atual. Eduardo Amorim era o 10º treinador corintiano em quatro anos, período em que o Palmeiras só teve cinco técnicos.

    Resumir o sucesso ou fracasso de um clube ao excesso de mudanças é simplismo.

    Há muito mais do que isso.

    Mas os bons momentos dos clubes vencedores sempre dão visibilidade às decisões corretas.

    Contratações certeiras, demissões justas, vendas bem feitas... tudo parece mais certo nas vitórias.

    Tite perdeu um e empatou outro de seus dois últimos encontros contra Cuca.

    Era Atlético-MG x Corinthians, em 2013, no Brasileirão que foi vencido pelo Cruzeiro de Marcelo Oliveira. O Atlético de Cuca ficou em oitavo lugar na tabela, o Corinthians de Tite em 10º. Sinal de que as coisas mudam, bem mais do que os nomes dos treinadores.

    Mudam tanto que o Palmeiras em crise pode até vencer o Corinthians, já classificado e dirigido pelo melhor técnico do Brasil.

    "A gente nunca sabe como será o futuro. Como será que teria sido se eu não tivesse demitido o Tite naquela época?", se pergunta Palaia.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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