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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Os novos pobres

    01/05/2016 02h00

    O Audax não é um clube-empresa, mas foi comprado pelo empresário Mario Teixeira em 2013, quando o grupo Casino decidiu vender a estrutura herdada na compra do Pão de Açúcar. Tinha acabado de conquistar o acesso para a Série A-1. Mudou de nome –Audax F. C. para Grêmio Osasco Audax F.C.– e de cidade.

    Só pôde efetivar a saída de sua sede paulistana em 2015, porque o regulamento da Federação Paulista de Futebol impedia a transferência de endereço no ano do acesso. Também é estranho o uso do verbo comprar, para definir a troca de proprietário.

    Não se compra uma associação sem fins lucrativos. O que Mario Teixeira comprou foi a dívida do Audax com o Casino, que contabilizava cada centavo investido no futebol como passivo.

    Hoje o Audax é um time de Osasco e tem dívida com Mario Teixeira, o Mario Ponte Preta.

    Toda vez que um time modesto rompe a barreira dos quatro grandes e chega à final do Paulistão há motivo para procurar onde está o erro do modelo. Na década passada era o São Caetano, mantido pela prefeitura da cidade do ABC enquanto o prefeito Luiz Tortorello foi vivo.

    Nos anos 80, o empresário Richard Drago colocava dinheiro na Inter de Limeira. O prefeito também ajudava. Em 1990, a família Chedid voltou ao cenário fazendo renascer o Bragantino, campeão estadual e vice brasileiro do ano seguinte. O melhor jeito de definir a gestão em Bragança Paulista é "futebol-feudo".

    Enquanto dura, este tipo de modelo torto ajuda a tirar crianças das ruas para jogar nas divisões de base. Mario Ponte Preta faz isso em Osasco desde 2009.

    Tem muito valor. O problema é ter prazo de validade.

    Assim como o Audax, o Ituano se mantém com auxílio de um empresário, o ex-jogador Juninho Paulista, gestor da equipe campeã paulista em 2014. O Ituano é mais estruturado.

    Por mais que se duvide da simples benfeitoria e que se saiba que o empresário terá pelo menos o abatimento no Imposto de Renda, é necessário dizer que a vida não é fácil para quem sonha fazer um bom time no interior.

    O cálculo do Audax é que um clube de Série A-1 estadual e Série B do Brasileiro gaste R$ 10 milhões e arrecade R$ 6 milhões por ano.

    O Audax vai jogar a Série D, de deficit, porque se classificou para as semifinais do Estadual. Senão, teria só a Copa Paulista no segundo semestre.

    De 2001 para cá, oito pequenos disputaram a final em São Paulo: Botafogo-SP, Paulista, Ponte Preta, Santo André, Guarani, São Caetano, Ituano e Audax.

    O atacante Leandro saiu do Botafogo para ser campeão brasileiro pelo São Paulo e carioca pelo Fluminense; Mineiro trocou São Caetano por fazer gol de título mundial do São Paulo; Elias foi vice pela Ponte Preta e joga pela seleção.

    O calendário precisa permitir que clubes assim tenham o ano inteiro de atividade.

    Ao mesmo tempo em que se sabe da dificuldade e procura-se onde está o pecado em cada exemplo destes, exalta-se o conto de fadas do Leicester, que pode ser campeão nacional hoje. O clube inglês foi comprado por um magnata tailandês que explora redes de free shops.

    Quando cansar, vende o time e ele volta ao fundo do poço. Há duas diferenças: o Leicester é empresa e seu dono visa lucro; lá, eles têm certeza de ter jogos a fazer a temporada inteira.

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    pvc

    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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