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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Neymar pode mais

    05/06/2016 02h00

    A inegável dependência da seleção brasileira de Neymar é confirmada pelos números. Ele é o artilheiro desde o retorno de Dunga ao cargo de técnico e o vice-líder em passes para gols. Dezesseis dos 44 gols depois da Copa do Mundo passaram por ele (36%).

    O índice já foi maior. Antes do início da Copa América do Chile, Neymar tinha oito gols e três passes, participação em 50% dos gols sob o comando de Dunga.

    Assustador é que a dependência não diminuiu porque o time melhorou. Foi Neymar quem piorou.

    Em 2014, o craque do Barcelona marcou 15 vezes em 14 partidas pela seleção. Em 2015, fez quatro gols em nove jogos, recebeu cinco cartões amarelos e um vermelho. São mais cartões do que gols.

    Todos os números de Neymar na temporada 2015/16 são piores do que os do ano anterior, quando ganhou a Champions League e se tornou o primeiro jogador na história a marcar em todas as partidas dos mata-matas desde as quartas-de-final até a finalíssima de Berlim.

    Depois de ser protagonista do Barça nos dois meses de lesão de Messi, entre setembro e novembro do ano passado, Neymar foi ofuscado pelo trabalho brilhante de Luis Suárez, o melhor jogador do Campeonato Espanhol e candidato a ficar com o prêmio da Fifa deste ano.

    Na temporada da conquista da Champions League, Neymar fez 39 gols e deu 22 assistências. Em 2015/16, marcou 31 vezes e ofereceu 20 passes. Não é mau. Mas é raro ver um jogador de seu nível, aos 24 anos, ter queda de desempenho de um ano para o outro.

    Não aconteceu com Messi nem Cristiano Ronaldo nem Zico nem Maradona –sua Majestade não vai entrar nesta comparação.

    Há diversas hipóteses para isto ter acontecido. Uma delas é não estar se passando nada diferente de antes. Mas é impossível não perguntar se a sequência de compromissos extracampo interfere.

    Uma parte da crise da seleção brasileira que disputa a Copa América nos Estados Unidos deve-se ao hiato entre a geração de Kaká e a de Neymar. São dez anos de diferença de idade. No meio deles, houve candidatos a protagonistas. Adriano, Robinho e Pato poderiam ter concorrido ao prêmio da Fifa, mas nenhum deles confirmou a expectativa produzida no início de suas carreiras.

    Se um deles tivesse chegado no mesmo nível até a Copa do Mundo de 2014, a vida de Neymar poderia ser diferente. A seleção poderia ter menos dependência e o craque certamente seria uma estrela de tamanho diferente.

    Ninguém acha fácil sair da vida simples em São Vicente para virar uma celebridade em Nova York. Nem se pede que ele renuncie aos prazeres das férias. Só ele pode saber com certeza se seu sorriso na hora de comemorar um gol segue tão aberto quanto o que mostra nas rodas da sociedade.

    O problema de Neymar é apenas ser feliz.

    O do futebol brasileiro é mais grave. A Copa América dos Estados Unidos pode mostrar um time menos dependente de seu maior craque se jogadores como Willian, Coutinho e Renato Augusto conseguirem assumir o papel de líderes técnicos. Mas é difícil que alcancem a estatura de Messi e Luis Suárez durante a competição.

    Quem pode fazer isso e levar o Brasil à Copa do Mundo com chance de ser campeão é Neymar.

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    pvc

    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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