Todos os números da seleção melhoraram depois da troca de Dunga por Tite. O time finaliza mais, tem mais posse de bola, troca mais passes, tem mais desarmes, mais gols marcados, menos sofridos. O Brasil lidera as eliminatórias com futebol compacto e paciência para esperar a hora exata de invadir a área adversária.

O Palmeiras foi campeão brasileiro com o melhor ataque, a melhor defesa, o melhor desempenho como visitante, o maior número de pontos do primeiro turno e recorde de pontos no returno. Também teve o maior índice de bolas roubadas nos dois terços do campo mais próximos à área rival.

A seleção faz 29% de seus gols depois de desarmes no campo adversário. Mesmo assim, o estilo de Tite e Cuca é bem diferente. A seleção joga em busca do equilíbrio, aproximação entre as linhas para tirar espaço quando se defende, triângulos na parte ofensiva para ter sempre opções de passe e não depender exclusivamente dos dribles para infiltrar-se.

Cuca também é moderno, mas prefere o jogo vertical. "Meus times nunca tiveram muita posse de bola", disse no dia em que fechou contrato, em março. O Palmeiras não apostou no lançamento direto dos zagueiros para os atacantes, mas preferiu a definição rápida à troca de passes até abrir um buraco entre os zagueiros.

O ano de 2016 termina com a diminuição da aparência de que o Brasil só produz técnicos desatualizados. Cuca e Tite são dois dos responsáveis por isso. Eles conquistaram respeito. Mais até do que outros que merecem o mesmo tratamento, como Dorival Júnior, chamado pelos jogadores do Santos de "O Guardiola do Brasil", pelo apreço à qualidade do passe.

O problema do futebol brasileiro não é a desatualização de seus técnicos, mas de nossa cultura. Quase não há dirigentes que escolham treinadores por sua filosofia de jogo. Exemplo é o Corinthians, que passou três meses em busca de um nomão, um escudo, um para-raio.

Antes da seleção, Tite teve três grandes trabalhos, todos em lugares onde houve tempo para colher resultados: no Grêmio, no Inter e no Corinthians. Cuca chegou ao Atlético em 2012 e colecionou seis derrotas em seus seis primeiros jogos. No Palmeiras, foram quatro partidas perdidas nos quatro primeiros compromissos. Imagine se Alexandre Kalil e Paulo Nobre decidissem demiti-lo com a desculpa pronta: "Futebol é resultado."

Há duas semanas, depois de o Manchester City perder para o Chelsea e para o Leicester, com um empate contra o Celtic no meio, Guardiola explicou por que vivia na Inglaterra seu pior semestre da carreira: "Eu avisei que precisava de tempo."

O Borussia Mönchengladbach demitiu o treinador André Schubert, o sétimo a cair no primeiro turno do Campeonato Alemão. É recorde.

No Brasileirão, houve 29 mudanças de técnico. A cada três rodadas, caem dois treinadores. Só Dorival Júnior, Cuca e Paulo Autuori sobreviveram o campeonato inteiro e Dorival é o único da Série A no cargo há mais de um ano.

Não há qualidade de futebol que resista.

Hoje o Brasil inteiro entende que se Tite e Cuca conseguirem trabalhar, seus times apresentarão bons resultados. É preciso espalhar esse respeito por mais gente.

GUERRA
O Palmeiras pode anunciar a contratação do venezuelano Guerra, eleito o melhor jogador da Libertadores. É bom, mas não uma certeza. Nos últimos seis meses, demorou a recuperar-se de uma lesão e saiu muitas vezes do banco de reservas do Atlético Nacional.

NACIONALIDADE
Se o melhor jogador da Libertadores nascer na Venezuela é sinal de que qualidade não tem nacionalidade, isso não exclui a curiosidade. Nenhum técnico inglês ganha o campeonato do país desde 1992, quando Howard Wilkinson foi campeão pelo Leeds United.

pvc

É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
e segundas-feiras.