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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Faz mal ao futebol brasileiro dizer que Libertadores é batalha

    05/03/2017 02h00

    A Chapecoense será o primeiro time brasileiro a estrear na fase de grupos da Libertadores, terça-feira (7), contra o Zulia, na Venezuela. Na quarta (8), o Flamengo entra em campo contra o San Lorenzo e o Palmeiras enfrenta o Tucumán. A partir desta semana, você ouvirá diversas vezes a frase: "Libertadores é diferente!"

    Esqueça.

    Mais perfeito do que estes clichês foi a resposta do técnico do Santos, Dorival Júnior. Questionado se é possível ganhar o torneio continental jogando bonito, Dorival respondeu que sim e acrescentou: "O Atlético Nacional do ano passado confirma isso."

    É uma lenda e faz mal ao futebol brasileiro dizer que Libertadores é batalha, é guerra, blá, blá, blá... Se o Santos venceu apostando no talento numa época em que não havia exame antidoping, nos anos 1960, se o Flamengo ganhou com o time mais espetacular que já possuiu, e se perdeu com equipes sem o mesmo brilho, por que é preciso pensar em luta mais do que em jogar bom futebol?

    Nenhum destes campeões venceu sem garra. Nenhum grande time vence sem qualidade. O técnico do Flamengo de 1981, Paulo César Carpegiani, mandou o centroavante Anselmo entrar em campo só para revidar a violência dos chilenos do Cobreloa. Mas a vitória veio por causa do bom futebol.

    Não foi diferente com o Santos de Neymar, em 2011.

    Outro mito é a necessidade de ter jogadores de outras nacionalidades por causa do idioma. Nada contra o estrangeiro bom. Borja, Berrio, Copete, todos campeões no ano passado pelo Atlético Nacional, vão ajudar muito.

    Mas na história dos 17 títulos de clubes brasileiros na Libertadores, só cinco venceram com jogadores estrangeiros titulares. Os campeões gringos foram seis: De León, Arce, Rivarola, Lugano, Guiñazú e D'Alessandro.
    A lista tem jogadores de puro talento como D'Alessandro, de raça como Lugano, de técnica e fibra como Hugo De León.

    O Palmeiras estreia na quarta-feira contra o Tucumán, da Argentina, com desconfiança sobre Eduardo Baptista pelo fato de substituir Cuca. A diferença entre os dois estilos é evidente. Cuca marca homem a homem na maior parte do tempo. Eduardo Baptista quer marcação por zona.

    Mas não abre mão de seus princípios, de posse de bola, em vez da transição rápida de Cuca. Perguntado sobre a razão de ter esta convicção, Baptista pergunta: "Você prefere ver um jogo como Real Madrid x Barcelona ou dois times que briguem pela bola?"

    A óbvia resposta sedimenta sua confiança num time que tenha triangulações e velocidade com a bola para ganhar a Libertadores.

    O princípio eterno do futebol brasileiro sempre foi jogar bem. Há uma confusão desde que se criou o falso dilema de ganhar como 1994 ou perder como 1982. Pergunta-se sobre jogar bonito ou jogar feio. Não se trata disso. Trata-se de jogar bem. Significa tabelas, dribles, gols... Libertadores não é guerra. É futebol!

    Nas últimas três edições, foram finalistas o Nacional do Paraguai e o Independiente del Valle, do Equador. Ganharam San Lorenzo, River Plate e Atlético Nacional. Apenas porque nenhum brasileiro jogou melhor do que eles.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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