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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Interior ainda tem vida e quase sempre evita finais entre grandes

    30/04/2017 02h00

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    SAO PAULO, SP, BRASIL, 22-04-2017: Jogadores da Ponte Preta comemoram a classificacao, jogo contra o Palmeiras, valido pela segunda rodada das semifinais do Campeonato Paulista, no estadio Allianz Parque, em Sao Paulo. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, ESPORTE)
    Jogadores da Ponte Preta comemoram classificação à final do Campeonato Paulista

    O livro "Soccernomics" conta como o futebol na Europa nasceu fora das capitais. Os grandes campeões estavam nas regiões industriais de Manchester e Turim ou em portos, como Liverpool. Na Baviera, bem distante de Berlim, o Bayern transformou-se numa potência.

    Até o Chelsea ganhar a Champions League, em 2012, nenhum time de Londres, Paris ou Roma tinha conquistado o torneio. As exceções eram Amsterdã, Madri e Lisboa.

    O Brasil do final os anos 1970 parecia-se um pouco com isso. Campinas estava à margem da via Anhanguera e da construção da rodovia dos Bandeirantes. As fábricas empregavam e o futebol desenvolvia-se. Guarani e Ponte Preta rivalizavam com os quatro grandes da capital. O Guarani eliminou o Vasco em semifinal do Brasileiro, a Ponte quase tirou o Grêmio na semifinal de 1981.

    Em 1979, a revista Placar fez foto histórica com os melhores jogadores de Guarani e Ponte Preta, metade de cada time. Era a capital brasileira do futebol.

    A classificação da Ponte Preta para sua quinta final de Campeonato Paulista —foi também vice-campeã em 1970— relembra aquele tempo. A equipe era mais forte em 1977, mas é mais provável ver a Ponte campeã hoje, porque o primeiro jogo das finais acontece em Campinas. Em 1977 e 1979, foram seis jogos, todos no Morumbi, em duas decisões estaduais.

    A Ponte era um timaço e mesmo assim não se acreditava nela. No dia do segundo jogo da melhor de quatro pontos entre Corinthians e Ponte Preta, em 1977, esta Folha titulou: "É hoje, Coríntians!" Assim mesmo, sem H e com acento. Nenhuma linha sobre a Ponte numa edição especial de oito páginas, com perfil de Vicente Matheus e de Oswaldo Brandão. Parecia edição extra do campeão.

    "Roupa suja não se lava em decisão", dizia o título da reportagem sobre Vicente Matheus, que tinha ido ao primeiro jogo de calça amarela e camisa de seda pura italiana, com detalhes amarelos. Por superstição, não iria mudar de roupa, porque não havia tempo para lavar.

    O Corinthians perdeu por 2 x 1 e a edição antecipada de título ficou adiada para depois da quinta-feira, 13. A Ponte perdeu, mas vendeu caro a derrota.

    No fim dos anos 1970, houve surpresas como o Guarani campeão brasileiro, a Ponte vice campeã paulista de 1977, o XV de Piracicaba, vice estadual em 1976, o Operário e o Londrina, semifinalistas do Brasileirão de 1977. Parecia uma tendência. Não era.

    Hoje, há uma lógica de a cada ano exaltar-se a campanha de um intruso de São Paulo. O Ituano de 2014, o Audax de 2015, o Guarani de 2012, o Santo André de 2010, a Ponte de 2016. O mais estruturado destes finalistas é, sem dúvida, a Ponte Preta.

    Rebaixada no Brasileirão de 2013, voltou no ano seguinte à frente do Vasco na classificação da Série B. Não chega a ser um exemplo, mas um sopro de esperança.

    Assim como a Ponte sobrevive, poderiam criar seu espaço no calendário anual clubes como Botafogo-SP, XV de Piracicaba, Ferroviária, Guarani, Portuguesa... Não cabe todo mundo na Série A, mas é importante ter todos eles em atividade.

    Se não houvesse mais vida no interior, os quatro grandes fariam as finais sempre. E não fazem quase nunca.

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    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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