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    PVC - Paulo Vinicius Coelho

    Nunca a distância entre europeus e sul-americanos foi tão grande

    18/12/2017 02h00

    Karim Sahib/AFP
    Real Madrid's players celebrate with the FIFA Club World Cup trophy following their victory in the final football match against Gremio FBPA at the Zayed Sports City Stadium in Abu Dhabi on December 16, 2017. Real Madrid defeated Gremio 1-0 to lift the FIFA Club World Cup for the third time in their history. / AFP PHOTO / KARIM SAHIB ORG XMIT: 545
    Jogadores do Real Madrid comemoram a conquista do Mundial sobre o Grêmio

    O Real Madrid conquistou dois mundiais sob o comando de Zinedine Zidane, mais duas Ligas dos Campeões e um campeonato espanhol, no período de um ano e meio. A vitória do Real por 1 x 0 sobre o Grêmio, daqui a alguns anos poderá dar a equivocada impressão de que o jogo foi equilibrado. Não foi.

    Os espanhóis jogaram em ritmo de treino.

    Nunca a distância entre o futebol de clubes foi tão grande, de europeus para sul-americanos. Todas as críticas sobre diferenças táticas podem ser justas, mas o inegável é que o abismo econômico provoca um precipício técnico.

    Dos onze titulares do Real Madrid, só Benzema não deve jogar a Copa. Dos onze do Grêmio, só Luan talvez jogue. No final da década de 1980, a distância Europa-América do Sul também foi grande. O Brasil não tinha se preparado para o êxodo exagerado e exportava jogadores pouco acima dos 20 anos, como Muller, Silas, Valdo e Romário.

    Um amigo do colégio preferia assistir às partidas da segunda divisão de São Paulo ao Campeonato Italiano. Eu respondia que estava louco. A Série A da Itália era outro esporte.

    As idas e vindas da economia, os altos e baixos do preço do dólar fizeram jogadores importantes voltarem ao país e o equilíbrio existir nos anos 1990.

    Até o processo Bosman acabar com o limite de estrangeiros na Europa.

    Hoje, mais do que em qualquer outra época, o futebol criou a casta dos ricos: Real Madrid, Barcelona, Bayern, Manchester City, Manchester United, Paris Saint-Germain, Chelsea. A distância destes para os demais, sul-americanos e médios europeus, é como da NBA para o resto do mundo, no basquete. É Michael Schumacher contra o resto.

    Esqueça a derrota do Grêmio e volte ano após ano. Em 2016, o Atlético Nacional de Reinaldo Rueda perdeu do Kashima Antlers, em 2015, o River Plate caiu contra o Barcelona, em 2014, o San Lorenzo foi derrotado pelo Real Madrid também em ritmo de treino.

    A parte tática tenta equilibrar as coisas. Desequilibra mais. No passado, nos Mundiais de clubes, os sul-americanos tinham a arte e os europeus defendiam-se. Hoje é o inverso.

    A lógica vale para vários jogos da Liga dos Campeões. Os clubes da Holanda faziam valer sua tradição ofensiva. Hoje, só têm chance na Liga Europa, segundo torneio no escalão europeu.

    Zidane comanda há dois anos o melhor time de futebol do planeta. É campeão do mundo, mas o Manchester City é atualmente quem mais encanta. Fez 11 gols a mais do que o Real Madrid com dois jogos a menos, nesta temporada.

    Zidane é o técnico mais vencedor dos últimos dois anos.

    Guardiola continua sendo o mais inventivo.

    Os dois tiveram os inícios de carreira mais exuberantes da história das grandes ligas europeias. Entre 2008 e 2012, Pep conquistou 14 de 18 troféus disputados. Zidane ganhou oito títulos de doze, desde janeiro de 2016.

    Não há paralelo na América. Em parte, por causa do talento dos dois técnicos-gênios. Em parte, porque é impossível ganhar tudo com qualquer time sul-americano. O equilíbrio impede que isto ocorra abaixo do Equador.

    O desequilíbrio ajuda Zidane e Guardiola a quebrarem tantos recordes todos os dias.

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    pvc

    É jornalista desde os 18. Cobriu as Copas de 1994, 1998, 2006, 2010 e 2014. Hoje, também é comentarista. Escreve aos domingos
    e segundas-feiras.

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