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    Quebra Cabeça - Rosely Sayão

    Minha avó morreu. E agora?

    14/11/2015 02h25

    Morreu a avó de uma garota de nove anos, filha de uma conhecida minha. A menina está inconsolável.

    A avó nem estava doente –estava firme e forte, até fez bala de coco no domingo para ela. Dois dias depois, não acordou pela manhã: morreu dormindo.

    A garota está com o coração doído que só. Toda hora chora, não tem vontade de brincar, de conversar com os amigos nem de ir à escola –embora vá, porque os pais acham que ela precisa ir. A morte da avó não sai dos pensamentos, mas a menina não quer falar sobre esse assunto.

    Quando alguém de quem a gente gosta muito morre é assim mesmo. Aparece uma tristeza muito grande, uma dor que parece que não vai acabar nunca. Mas a vida continua, e essa dor vai ficando um pouco menos doída com o tempo –até se transformar em saudade, que é um pouco triste e um pouco alegre.

    A menina está também muito brava com seus pais, pois eles não a deixaram ir ao velório e ao enterro. Disseram que isso não era coisa para criança, que ela iria ficar "impressionada".

    As cerimônias são uma maneira de se despedir da pessoa que morreu, por isso não tem nada demais as crianças acompanharem. Muita gente pensa do mesmo jeito que os pais da menina, mas, se a criança quiser ir, talvez seja bom respeitar sua vontade, não acha?

    A garota está brava com os pais por mais um motivo. Disse que eles mentiram ao contar que a avó se transformou em uma estrela que vai olhar por ela todos os dias. "Desde quando uma pessoa que morre vira estrela?", perguntou-me. "Meus pais acham que sou criancinha!"

    Não, aos nove anos ela não é uma criancinha –já cresceu para entender o que é a morte. Mas os pais não mentiram. Só tentaram explicar o que é a morte de outra maneira. Em vez de ficar brava, a garota poderia ter dito que já estava pronta para conversar sobre o assunto, não é?

    Quando alguém próximo morrer, converse sobre seus sentimentos e pensamentos. Vai ver como isso ajuda.

    Armandinho

    Quebra-Cabeça

    Escreveu até abril de 2016

    por rosely sayão

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