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    Rafael Garcia

    E Plutão vai voltar no tapetão?

    20/07/2015 02h01

    Já passou uma semana do sobrevoo da sonda New Horizons por Plutão, e todos os que acompanharam o evento pela internet ainda estão encantados com suas imagens e descobertas. Aos poucos, a pergunta que não quer calar volta a assombrar os astrônomos. Um corpo celeste tão rico quanto o revelado pela espaçonave-robô não merece voltar à primeira divisão do Sistema Solar?

    Plutão realmente surpreendeu aqueles que imaginavam que o planeta seria uma bola de gelo inerte sem nenhuma complexidade. Sua superfície está coalhada de diferentes formações territoriais, marcadamente a planície em forma de coração, batizada agora com o nome de Tombaugh Regio –uma homenagem ao astrônomo Clyde Tombaugh, que descobriu o planetoide em 1930.

    Plutão, além disso, tem atividade geológica, contrariando o que esperavam teorias para um corpo celeste tão pequeno. Essa sua característica pode ter sido responsável pela formação de montanhas de mais de 3.000 metros de altura vistas agora em algumas regiões. Além disso, apagou o emaranhado de crateras que costuma caracterizar corpos geologicamente inativos. Cientistas acreditam que a geologia plutônica seja alimentada por radioatividade interna ou por calor residual remanescente da formação do planeta, mas ninguém sabe ao certo.

    E os dados sobre a enorme atmosfera rarefeita de Plutão -que, se levada em conta nas medidas de diâmetro, tornaria este um planeta do tamanho da Terra– também foram um surpresa. Os cientistas acreditam que haja neve em forma de nitrogênio caindo nos polos, e é possível que parte do gás seja expelido desde um oceano líquido subterrâneo.

    Também houve uma reviravolta na controvérsia sobre o tamanho de Plutão, que já chegou a ser considerado menor do que Eris –planetoide descoberto em 2005 que se tornou seu rival naquela região orbital. Ambos os corpos habitam o chamado cinturão de Kuiper, um grupo de objetos que orbita o Sol além de Netuno. Plutão, medido agora com 2.370 km de diâmetro, voltou a ser considerado o maior objeto da região, apesar de Eris ter maior massa.

    Com tanta riqueza de características, não é difícil imaginar que alguns astrônomos –com apoio da equipe da missão New Horizons– proponham que seja votada uma nova definição de planeta em uma assembleia da IAU (União Astronômica Internacional), que tem seu próximo encontro daqui a duas semanas no Havaí.

    É improvável, porém, que uma decisão seja tomada tão rapidamente. Ainda existe uma tonelada de dados da New Horizons a serem transmitidos pela sonda e analisados, e Eris, nunca visitado por uma sonda, ainda continuará sendo uma pedra no sapato dos plutonistas.

    Para Plutão voltar a ser considerado planeta, e não planeta-anão, a regra que acabou por culminar em seu rebaixamento teria de ser mudada. Plutão ainda não "limpou" sua região orbital, que está coalhada de outros grandes objetos, por isso não teria a independência necessária para lhe garantir condição planetária.

    Alguns astrônomos argumentam, porém, que a órbita de Plutão é alongada demais para que possa ser varrida por qualquer planeta que seja em um período de "apenas" 4.5 bilhões de anos –a idade do Sistema Solar. O cinturão de Kuiper, apesar de possuir muitos objetos, é grande, e não está tão apinhado de coisas assim. Se a IAU usar a densidade de objetos numa faixa orbital como critério para considerar uma órbita "limpa", Plutão poderia voltar à primeira divisão.

    Isso seria, claro, uma manobra para permitir que a maior rocha do cinturão de Kuiper seja promovida "no tapetão". De um jeito ou de outro, os critérios de definição de um objeto astronômico serão sempre arbitrários. E, mesmo quando se trata de astrônomos, não é possível ignorar o fator emocional. Uma promoção talvez dependa de quanto o coração de Plutão será capaz de tocar o coração dos astrônomos na IAU.

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