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    Raquel Landim

    A liquidação de Eike e os efeitos para a economia

    05/07/2013 14h47

    O empresário Eike Batista está promovendo uma das maiores liquidações de ativos da história desse país para pagar suas dívidas.

    Como é comum em casos desse tipo, primeiro vão-se os anéis, geralmente a preços não muito atrativos.

    A termelétrica MPX já passou para as mãos da alemã E.ON e a mineradora MMX, que tem um porto estratégico para o escoamento do produto, tem interessados.

    Os demais ativos do grupo --OGX (petróleo), OSX (estaleiro), LLX (logística) e outras empresas menores-- também estão à venda, mas está difícil achar comprador.

    A situação do estaleiro é tão crítica que assessores de Eike já falam abertamente em pagar as dívidas e fechar ou até em recuperação judicial.

    A alavancagem do império X impressiona. Nas empresas, a dívida bancária chega a R$ 23 bilhões --quase R$ 8 bilhões no curto prazo. Não estão nessa conta débitos em atraso com fornecedores.

    Na pessoa física, Eike deve pelo menos R$ 4 bilhões: R$ 1 bilhão ao Itaú, R$ 1 bilhão ao Bradesco e R$ 2 bilhões ao fundo árabe Mubadala.

    Se o plano de André Esteves, do BTG Pactual, der certo, Eike vai sair dessa uma sombra do que já foi. Ele ocupou o posto de sétimo homem mais rico do mundo com uma fortuna de US$ 35 bilhões. Hoje não tem nem 10% disso.

    Mas, obviamente, os mais prejudicados foram os que acreditaram nele e investiram seu dinheiro em ações e bônus, que praticamente viraram pó. E aí estamos falando desde grandes barões das finanças internacionais até os funcionários dos Correios.

    Os detentores dos US$ 4 bilhões em bônus da OGX, que hoje são comercializados a 20% do valor de face, terão que aceitar um forte desconto se quiserem receber algum dinheiro de volta.

    A exposição dos bancos brasileiros a Eike não é pequena, mas não significa risco sistêmico. Obviamente a reputação de bancos de investimento como o BTG sai chamuscada, já que lideraram as aberturas de capitais das empresas X. Seus clientes não devem estar nem um pouco satisfeitos.

    O "efeito Eike" para a economia brasileira é difícil de medir, mas uma coisa é certa: vai piorar o que já vinha ruim.

    Para José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados e um dos melhores analistas da economia real do país, os bancos vão ficar ainda mais receosos para conceder crédito.

    Desde meados de 2012, os bancos privados pisaram no freio, por conta da alta inadimplência, particularmente na venda de veículos. No acumulado de 12 meses até maio, o aumento do crédito privado é de apenas 8,5%.

    Com menos crédito na praça, inflação no teto da meta, juros subindo e investidores receosos por conta dos protestos nas ruas, Eike é a cereja do bolo.

    Está difícil achar algum economista que projete crescimento acima de 2% para o PIB este ano. E pode piorar.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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