• Colunistas

    Saturday, 18-May-2024 23:01:24 -03
    Raquel Landim

    O BC vai ter fôlego para remar contra a maré?

    12/07/2013 03h00

    SÃO PAULO - O Banco Central elevou os juros básicos da economia em 0,5 ponto porcentual para 8,5% nesta semana. Foi a terceira alta consecutiva e a decisão foi unânime. Para o mercado, ficou claro que o BC vai continuar subindo a taxa Selic por mais algum tempo para controlar a inflação.

    O problema é que a autoridade monetária está remando sozinha. A presidente Dilma Rousseff estabeleceu a austeridade fiscal como um dos seus "cinco pactos" para atender às "vozes das ruas". Mas até agora não resultou em nada de prático.

    Os jornais especulam quase todos os dias sobre o novo corte de gastos, que ficaria entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões, mas os técnicos do ministério da Fazenda não conseguem fechar um número. Também aparecem na imprensa interlocutores do ministro Guido Mantega dizendo em "off" que vão adiar novas desonerações, mas, por enquanto, é só promessa.

    A questão é que, apesar do discurso, não está cristalizada em Brasília a percepção de que um ajuste fiscal rigoroso é realmente necessário.

    Na visão de uma parte do governo, uma alta muito forte dos juros pode prejudicar ainda mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, que o mercado já prevê mais perto de 2% ou até abaixo disso. Outro argumento dessa corrente é que a inflação começou a desacelerar em junho, embora ainda esteja em 6,7% no acumulado em 12 meses.

    O BC, no entanto, está preocupado com os impactos do câmbio. O dólar vem se valorizando globalmente e já superou R$ 2,20. E isso vai ter impacto na inflação, eliminando parcialmente o efeito benéfico da queda dos preços dos alimentos.

    A percepção de economistas próximos ao governo é que o presidente do BC, Alexandre Tombini, cansou de esperar que a Fazenda faça parte do trabalho de controlar a inflação, reduzindo os gastos públicos. Ele decidiu ganhar a corrida contra a alta de preços, mesmo que seja remando contra a maré.

    Mas não dá para esquecer que 2014 é ano eleitoral e uma das promessas de Dilma foi reduzir os juros cobrados no Brasil. Será que Tombini vai ter fôlego suficiente para remar até reconquistar a credibilidade perdida e levar a inflação de volta para a meta de 4,5% ao ano num horizonte de tempo razoável?

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024