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    Raquel Landim

    Crise de credibilidade

    26/07/2013 03h00

    O governo Dilma Rousseff enfrenta o seu pior momento na economia. A inflação segue pressionada, o real se desvaloriza, o rombo nas contas externas aumenta e o desemprego volta a subir.

    O pessimismo está se generalizando entre empresários, economistas, formadores de opinião e até em alguns setores da classe média. O problema é que não há muitas opções a disposição para fazer o país voltar a crescer.

    A receita de estimular o consumo se esgotou. As pessoas ainda estão endividadas, pagando as contas que assumiram em 2010, quando o ex-presidente Lula "bombou" o crédito para eleger sua sucessora.

    Dificilmente a recuperação virá pelas exportações, apesar do real fraco. A demanda externa ainda não se recuperou, as vendas de manufaturados representam uma fatia pequena do PIB e o apetite chinês por commodities não é mais o mesmo.

    O único caminho hoje para retomar o vigor da economia é estimular os investimentos. Até o governo já percebeu isso. A questão é como.

    Ainda não dá para ver com clareza nos indicadores, mas os relatos são de que o investimento privado parou. Com inflação em alta, o crescente intervencionismo do governo e as dúvidas sobre o desempenho da economia, as empresas pisaram no freio.

    Todas as apostas do governo estão voltadas para as concessões do segundo semestre. O leilão do campo de Libra, primeira área do pré-sal, deve ser um sucesso. Mas não dá para dizer o mesmo das concessões de rodovias, aeroportos e etc.

    Grandes investidores disseram a coluna que estão desanimados com os leilões. As taxas de retorno arbitradas pelo governo são baixas e a reação atrapalhada dos governos municipais e estaduais aos protestos aumentaram sensivelmente a insegurança jurídica no país.

    O governo precisa recuperar a credibilidade e a confiança do mercado o mais rápido possível. O BC finalmente começou a elevar os juros e assumiu um discurso duro contra a inflação, mas vai ter que se esforçar um pouco mais para ancorar as expectativas.

    A guinada na política monetária é positiva, mas não é suficiente. O tão alardeado ajuste fiscal do ministério da Fazenda decepcionou. Metade do corte de R$ 10 bilhões é só um emaranhado de contas, revisando estimativas.

    Com o PIB caminhando para crescer 2% ou menos, o governo já começa a jogar a culpa nos outros. O discurso agora é que o Brasil está em "fase de transição", por conta da migração de capitais para os Estados Unidos e da desaceleração do crescimento da China.

    Na avaliação dos principais assessores de Dilma, essa fase vai passar e o país voltará a crescer, com a ajuda da desvalorização do real. Mas para um número crescente de empresários e economistas a crise de credibilidade é grave e só uma mudança ministerial de peso resolveria o problema.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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