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    Raquel Landim

    A queda da inflação é uma maravilha?

    09/08/2013 13h30

    SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que "a queda da inflação é uma maravilha". Ela se referia a alta de apenas 0,03% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em julho, abaixo dos 0,26% apurados em junho. No acumulado em 12 meses, a inflação subiu 6,27% e voltou a ficar abaixo dos 6,5% estipulados como teto da meta pelo governo, reduzindo a pressão sobre o Banco Central (BC) para elevar os juros.

    Sem dúvida, a notícia é música para os ouvidos do governo. E é óbvio que todos comemoram quando os preços estão correndo menos a renda do trabalhador. Mas daí a dizer que é uma "maravilha"... Trata-se de um diagnóstico muito simplista da realidade da economia brasileira hoje.

    Dois fatores colaboraram para a menor pressão inflacionária no mês passado. Depois de subir muito no início do ano, os preços dos alimentos caíram, o que é normal considerando a sazonalidade da safra agrícola. Os preços dos transportes também recuaram, refletindo a revogação dos aumentos das passagens de ônibus em diversas capitais, após os protestos que sacudiram o país.

    Seria injustiça dizer que a inflação só caiu por causa desses dois fatores. De acordo com Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria, sem esses efeitos, o IPCA estaria subindo cerca de 0,3% ao mês --um nível compatível com inflação sob controle. "Houve uma queda na demanda das famílias. Os consumidores estão menos confiantes, o desemprego aumentou, a renda caiu e a expansão do crédito foi reduzida", disse Jensen à coluna.

    A economia brasileira perdeu o vigor e é pouco provável que o PIB (Produto Interno Bruto) cresça acima de 2% este ano. Ou seja, o IPCA voltou a ficar abaixo do teto da meta porque as pessoas estão ganhando e gastando menos e por causa de medidas intervencionistas nos preços administrados (passagem de ônibus, gasolina, energia elétrica).

    É um equilíbrio macroeconômico muito ruim. O que todos queremos é a economia brasileira crescendo forte, com inflação controlada. Mas, para isso, o governo precisa gastar menos, voltar a perseguir o centro da meta de inflação (4,5%) e, principalmente, realizar leilões de concessões de infraestrutura atrativos para o setor privado, que estimulem os investimentos.

    A economia brasileira não está em frangalhos, mas tampouco é uma maravilha. Na melhor das hipóteses, esse crescimento anêmico do PIB é desalentador. Dilma disse que a queda da inflação é uma "maravilha" em uma rápida coletiva de imprensa, após ser questionada pelos jornalistas. A presidente é economista e conhece a fundo todas essas questões. Vamos torcer para que estivesse apenas jogando para a plateia.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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