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    Raquel Landim

    Quem ganha com a venda do porto do Açu?

    16/08/2013 03h00

    O empresário Eike Batista surpreendeu o mercado e acertou a venda do porto do Açu, em São João da Barra, no litoral do Rio de Janeiro, para o grupo americano EIG por R$ 1,3 bilhão.

    Com uma dívida de quase R$ 2 bilhões e necessitando de robustos investimentos, a LLX, operadora do porto, era considerada um dos maiores "elefantes brancos" do empresário.

    O negócio ainda está sujeito aos detalhes finais para ser fechado, mas deve ter muita gente respirando aliviada em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

    BNDES e Bradesco são os principais credores da empresa. O BNDES emprestou R$ 546,3 milhões à LLX com vencimento em meados do mês que vem. Já o Bradesco acaba de conceder mais 18 meses de prazo para a empresa pagar R$ 467,7 milhões. Essa dívida agora só vence em outubro de 2014.

    A venda do controle da LLX para a EIG é a salvação para os bancos, que não vão precisar reconhecer esses valores em seus balanços como prejuízo.

    Para o governo, assumir esse tipo de perda no BNDES com um investimento no grupo de Eike seria um enorme constrangimento político. E deixar falir também não era uma opção para a administração Dilma. Teria um impacto negativo nos leilões de portos que estão por vir.

    Os americanos parecem ter feito um excelente negócio. Como o dinheiro entrará via aumento de capital, o controle da LLX sai praticamente "de graça", porque esses recursos ficam na empresa, para bancar os investimentos necessários.

    Eike também fez um bom negócio --pelo menos, na atual situação. Ele vai ser diluído num preço baixíssimo, de R$ 1,2 por ação, mas ainda vai manter uma fatia importante do porto do Açu. Sem dúvida, é melhor para ele ter 21% de um porto gerando receita do que possuir 54% de uma obra semiacabada, com dívidas bilionárias.

    Se o projeto do porto do Açu tivesse naufragado, também seria uma saia justa para o governador do Rio, Sérgio Cabral.

    Para viabilizar o projeto, ele desapropriou as terras de centenas de pequenos agricultores, que foram depois vendidas à LLX. A promessa era criar um distrito industrial na "retro área" do porto, gerando empregos. O lugar hoje, no entanto, é um imenso vazio. A situação dos agricultores já chama a atenção de seus adversários políticos, como o ex-governador Anthony Garotinho e o deputado Marcelo Freixo.

    Essa "retro área", inclusive, é um dos atrativos para os americanos da EIG, porque vai representar uma receita importante, quando as empresas começarem a chegar e alugar esses terrenos.

    Os agricultores tinham a esperança de retomar suas terras se o projeto não fosse adiante. Com a entrada da EIG, esse sonho se torna muito mais complicado. Provavelmente eles são os únicos que não vão ficar aliviados com desfecho dessa história.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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