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    Raquel Landim

    O primeiro deficit na balança em 13 anos?

    06/09/2013 12h09

    A deterioração da balança comercial está sendo muito veloz e se torna cada vez mais provável que o Brasil registre deficit em suas trocas com exterior este ano.

    De janeiro a agosto, o rombo já é de US$ 3,7 bilhões. A piora do resultado acumulado em 12 meses é assustadora. Nessa comparação, o saldo era de US$ 9 bilhões em junho, US$ 4 bilhões em julho e US$ 2,5 bilhões em agosto.

    Com as importações crescendo a um ritmo de 10% e as exportações caindo 1%, será necessária uma reversão grande para evitar que a balança termine o ano no vermelho.
    "Estamos caminhando para um deficit", reconhece José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) em conversa com a coluna. O ministério do Desenvolvimento ainda fala em um pequeno superávit, mas mais por dever de ofício do que por convicção.

    Se isso se confirmar, o governo Dilma Rousseff terá conseguido apurar o primeiro resultado negativo na balança em 13 anos. O último deficit foi no ano 2000 - de US$ 731 milhões.

    Desde então, o país se beneficiou do voraz apetite chinês por commodities, que inflou os preços e garantiu ao Brasil um crescimento impressionante do saldo comercial, que culminou no recorde de US$ 46,4 bilhões em 2006.

    Nos últimos seis anos, esse resultado foi piorando, mas o tombo de 2013 é dolorido. No ano passado, o Brasil registrou saldo de US$ 19,4 bilhões.
    É verdade que a China deixou de dar saltos de crescimento, mas mantém uma demanda robusta por commodities. Basta falar com qualquer agricultor para ver que não tem ninguém insatisfeito.

    A balança comercial brasileira se deteriorou por vários fatores, mas de longe o principal é um velho fantasma: o petróleo. De janeiro a junho, o deficit da balança de petróleo e derivados é de U$ 15,9 bilhões, conforme cálculo da GO Associados. Um resultado muito distante da autossuficiência que chegou a ser anunciada pelo ex-presidente Lula.

    A Petrobras foi sufocada por duas políticas adotadas por Lula e Dilma: utilizar o preço da gasolina para manter a inflação sob controle e estimular a venda de veículos para tentar gerar crescimento econômico. É lamentável, mas a história mostra que manipular o preço da gasolina é uma tentação que os presidentes dificilmente resistem.

    Só que em economia não tem almoço grátis. A produção de petróleo não cresceu como deveria enquanto o consumo interno de combustíveis bombou. A consequência óbvia é a redução do excedente exportável. De janeiro a agosto, as exportações de petróleo bruto caíram 45%.

    O governo diz que registrou este ano US$ 4,5 bilhões em importações de petróleo e derivados realizadas no ano passado, mas que, por uma mudança nas regras da Receita Federal, só foram registradas pela Petrobras este ano. O que não muda o fato de que essas importações efetivamente ocorreram.

    É verdade que o câmbio deve trazer algum alívio para a balança, tornando as importações de insumos e máquinas menos competitivas. As exportações de manufaturados terão algum alento, mas nada expressivo, já que o mercado internacional anda devagar. Ou seja, não deve alterar tanto o quadro.
    Infelizmente o saldo comercial se junta aos indicadores econômicos negativos da administração Dilma, que já convive com crescimento fraco, inflação no teto da meta, superávit primário das contas públicas reduzido, etc, etc, etc.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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