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    Raquel Landim

    A folga do dólar e o fim das promessas de austeridade

    13/09/2013 03h00

    O Banco Central, por enquanto, venceu um round contra a especulação. Desde que anunciou um programa diário de venda de dólar no mercado futuro, o BC inverteu a tendência que levou o mercado a falar que a moeda americana chegaria a R$ 2,70.

    No fim de março, quando o real começou a perder valor, o dólar estava cotado a R$ 2. Em 22 de agosto, dia do anúncio do BC, bateu em R$ 2,43. Desde então, a tendência se inverteu. Hoje o dólar fechou a R$ 2,28.

    Os mercados começaram a apostar contra as moedas dos emergentes quando Ben Bernanke, presidente do Fed, o BC dos Estados Unidos, sinalizou que recuaria da política de injeção de recursos no mercado.

    Com essa perspectiva, as montanhas de dinheiro que migraram para os emergentes na crise começaram a voltar, dando um solavanco no câmbio. Os especuladores aproveitaram e maximizaram o movimento.

    "O BC utilizou uma estratégia simples e inteligente, porque eliminou a perspectiva de falta de liquidez e acabou com a especulação.", diz Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio.

    Mas, se o BC conquistou uma vitória na política cambial, também amargou uma derrota na política fiscal. E algo me diz que uma coisa está diretamente ligada à outra.

    Na última ata do Copom (Comitê de Política Monetária), o BC disse que a política fiscal do governo Dilma é "neutra". Traduzindo: não pressiona a inflação.

    Até então, Alexandre Tombini, presidente do BC, afirmava, em alto e bom som, que a política fiscal é expansionista, o que significa gastar muito, estimulando o consumo e provocando inflação.

    Nenhum economista consegue enxergar nas contas públicas dados que justifiquem essa mudança de avaliação do BC sobre a política fiscal, simplesmente porque a política fiscal não mudou.

    O que aconteceu foi que o dólar, por causa da intervenção do BC, deu um refresco e parou de ameaçar estourar a meta de inflação. Foi o suficiente para o governo Dilma desmontar o discurso de austeridade fiscal, no qual nunca acreditou.

    E o BC obedeceu, perdendo o pouco de credibilidade que tinha ganho no mercado.

    A conta parece ser só eleitoral. Como a inflação tira mais votos do que o baixo crescimento, o governo fez de tudo para apagar o incêndio.

    Passado o susto, volta tudo como antes. Afinal quem quer reduzir o consumo e aumentar o desemprego às vésperas da eleição presidencial de 2014?

    Os gastos públicos em excesso minam a capacidade do país de crescer de forma sustentável, porque restringem o espaço para investir sem pressionar a inflação. Mas isso parece ser problema para o próximo presidente...

    Na semana que vem, o Fed se reúne e os investidores se perguntam se é dessa vez que vai acabar a política bilionária de injeção de dinheiro nos mercados.

    Isso pode não ocorrer agora, mas, em algum momento, Bernanke vai desmontar seu arsenal. Se o mercado reagir abruptamente, desvalorizando o real e impulsionando a inflação, Tombini vai voltar a dizer que a política fiscal do ministro Guido Mantega é expansionista?

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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