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    Raquel Landim

    Estagnados

    27/09/2013 10h17

    A desigualdade parou de diminuir no Brasil. É o que atesta a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgada hoje pelo IBGE. A constatação é muito preocupante, mas infelizmente previsível, porque a economia brasileira está praticamente estagnada.

    O índice Gini ficou em 0,507 em 2012, o mesmo nível de 2011. Esse indicador mede o nível de concentração de renda - quanto mais perto de 1 mais desigual é o país.

    Isso aconteceu porque o rendimento médio dos 10% mais pobres do Brasil subiu 5,1%, enquanto os 1% mais ricos tiveram um salto de 12,8% na sua renda.

    Esse resultado pode significar o fim da "década inclusiva" quando 23,4 milhões de pessoas saíram da pobreza, graças a um crescimento de 91,2% dos salários dos 10% mais pobres entre 2001 e 2011.

    Esse salto foi provocado, principalmente, pela política de fortes reajustes do salário mínimo, pelos programas de transferência de renda como o Bolsa Família, e pela explosão do crédito.

    No fim do governo Lula, essa receituário de políticas garantiu um crescimento de 7,5% ao ano e a eleição de sua sucessora. Desde então o cenário mudou.

    Se for confirmada a previsão de aumento de 2% a 2,5% do PIB este ano, o Brasil vai amargar um crescimento médio de 2% nos três anos da presidente Dilma - um patamar medíocre para uma economia no nível de desenvolvimento da brasileira.

    A economia estagnou porque o boom de consumo chegou ao fim. Não existe mais no país um contingente tão grande de pessoas para serem inseridas no mercado de trabalho e no acesso ao crédito.

    E vale ressaltar que parcela significativa da nova classe média está fortemente endividada, tentando pagar o carro financiado a perder de vista. A bolha de inadimplência do setor automotivo, que foi inflada pelos incentivos fiscais do próprio governo, ainda pesa na economia.
    A única saída para o Brasil voltar a crescer com vigor é investir mais e melhorar a produtividade. Esse diagnóstico já é consenso até entre governo e oposição.

    A dificuldade é colocar isso em prática. A atual administração finalmente reconheceu a dificuldade crônica do setor público de tirar projetos do papel e partiu para um programa de concessões.

    Os técnicos de Dilma, no entanto, adotaram uma postura de confronto com o setor privado nas regras dos contratos, o que diminuiu o interesse pelos ativos.

    Tudo indica que o programa de concessões será menor do que o previsto e que os leilões vão atrasar ainda mais. Os efeitos das concessões para os investimentos brasileiros, portanto, só devem começar a serem sentidos no fim do ano que vem.

    Assim, não há sinais de que vamos sair desse "rame rame" de baixo crescimento em breve. É verdade que o país vive uma inédita situação de pleno emprego, mas não deveria se acomodar. Avançamos muito, mas ainda somos um dos países mais desiguais do mundo.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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