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    Raquel Landim

    Falta de investimento: a verdadeira perna "manca" do Brasil

    13/12/2013 15h11

    2014 vai começar com uma perspectiva bastante pessimista para o Brasil: o crescimento do PIB deve ser ainda menor que este ano. No último boletim Focus, do Banco Central, a média dos economistas previa um avanço de 2,1% da economia brasileira no ano que vem comparado com 2,36% este ano.

    A tendência de desaceleração do Brasil vai na contramão de boa parte do mundo, que parece emergir da grave crise que começou cinco anos atrás. Segundo estimativas do departamento econômico do banco Itaú, a economia global vai crescer 3,3% no ano que vem, acima dos 2,8% deste ano.

    Os Estados Unidos devem crescer 2,5% em 2014, mais do que os 1,7% deste ano --especialistas otimistas já dizem que os EUA podem voltar a ser a locomotiva global. O PIB da Europa deve avançar 0,9% no ano que vem, um resultado pífio, mas bem melhor do que a queda de 0,4% prevista para este ano.

    Em 2013, os países emergentes sofreram com a saída de recursos rumo aos Estados Unidos, com os investidores se antecipando ao fim dos estímulos monetários, que deve ocorrer em breve. Boa parte dos países da América Latina desacelerou, mas a perspectiva é voltar a crescer no ano que vem.

    Por que o Brasil vai andar para trás?

    Na última quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que "o país está crescendo com duas pernas mancas". O diagnóstico do timoneiro da economia é que falta crédito para estimular o consumo e que a crise internacional prejudica a capacidade exportadora das empresas brasileiras.

    Em resumo: ele ainda acredita que falta demanda. Na visão do ministro, se os bancos fossem mais ousados e irrigassem o mercado com crédito, a população consumiria mais e, se não houvesse crise lá fora, as empresas venderiam mais.

    Mantega parece ter esquecido que os brasileiros, principalmente a nova classe C, reduziram o consumo porque já se endividaram demais, em boa parte estimulados pelo próprio governo.

    Ok, ele tem razão quando diz que a crise externa prejudica as exportações. Mas será que as empresas brasileiras terão competitividade para aproveitar o momento quando a recuperação que se avizinha lá fora chegar?

    A verdadeira perna "manca" do Brasil é o baixo investimento. Em 2014, ano de eleições presidenciais e de fraco crescimento da economia, as empresas vão colocar todos os planos na gaveta. É por isso que o PIB deve continuar rodando em torno dos medíocres 2% dos últimos anos, com boas chances de andar alguns décimos para trás.

    O governo vinha dando sinais de que tinha aprendido essa lição, principalmente depois de iniciar o programa de concessões de obras à iniciativa privada, que começou desajustado, mas, depois de correções de rumo, parece querer engrenar.

    Esses investimentos devem aparecer em 2015, quando as obras finalmente começarem. É um alento num ano que promete ser muito difícil, pois a economia brasileira terá que corrigir diversas assimetrias, como a desordem das contas públicas. Hoje o desânimo é tão grande que os empresários já falam nos planos para esperar 2014 passar.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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