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    Raquel Landim

    O jogo virou na negociação Mercosul - UE

    20/12/2013 17h34

    A administração Dilma Rousseff vem tentando arduamente ressuscitar a negociação para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. "O governo sempre quis esse acordo. O que mudou é a postura do setor privado", disse um assessor direto da presidente à coluna.

    A verdade é que governo e empresários despertaram do profundo transe provocado pelo forte crescimento do consumo no Brasil nos últimos anos. E acordaram assustados, porque o mundo não parou. Os Estados Unidos negociam dois mega acordos regionais com a Europa e com a Ásia, num arranjo com potencial para provocar um forte desvio de comércio, prejudicando os produtos brasileiros em seus principais mercados.

    Fechar rapidamente um acordo com os europeus parece ser a melhor saída para o Brasil. Mas a decisão europeia de questionar a política industrial brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgada ontem, demonstra que a tarefa não será simples.

    Há alguns anos, os europeus estavam malucos por um acordo com o Mercosul, porque amargavam sua pior crise em décadas, e os EUA, seu maior parceiro comercial, eram a origem do problema. O Brasil, que chegou a crescer 7,5% em 2010, parecia um oásis no deserto.

    Naquela época, o poder de barganha brasileiro para conseguir concessões europeias, principalmente na sensível área agrícola, era grande. Mas o país não soube aproveitar o momento e preferiu adotar medidas para proteger o seu mercado doméstico, como a política de incentivo ao setor automotivo, que está sob ataque dos europeus na OMC.

    Agora o jogo virou. A economia brasileira vai entrar em 2014 no quarto ano sem crescer muito mais do que 2%. Os europeus ainda enfrentam uma situação complicada, mas a recessão parece ter acabado, e as negociações para um acordo com os americanos avançam. Os EUA, por sua vez, dão sinais de que podem voltar a crescer forte.

    Os europeus são negociadores hábeis e começaram a colocar uma série de pedras no caminho do Mercosul: pediram para atrasar a troca de ofertas para janeiro e, menos de duas semanas depois, jogaram uma bomba no colo do Brasil na OMC, alegando que o processo é "totalmente" separado da negociação do acordo de livre comércio. Não dá para acreditar, não é?

    Também é verdade que não deve estar fácil para a Europa fechar uma oferta agrícola ambiciosa capaz de interessar ao Brasil. O protecionismo de França, Irlanda e Polônia nessa área é conhecido mundialmente. Com as barreiras brasileiras e argentinas para a importação de carros, esses países ganham muita força na hora de dizer não para um acordo com o Mercosul.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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