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    Raquel Landim

    Atestado de incompetência

    DE SÃO PAULO

    10/01/2014 03h30

    As agências de classificação de risco estão ameaçando rebaixar o "rating" do Brasil. É uma espécie de nota sobre a capacidade do país ou de uma empresa de pagar dívidas. Esse indicador é cuidadosamente observado por fundos de investimento internacionais na hora de aplicar seu dinheiro.

    O Brasil alcançou o "grau de investimento" em maio de 2008 pela primeira vez na sua história –um dos fatores que permitiu uma incrível migração de recursos para o país e um aumento da solidez macroeconômica.

    Nos últimos meses, as agências tem demonstrado seu descontentamento com os rumos da economia brasileira, principalmente a deterioração das contas públicas e o baixo crescimento.

    O mundo parece ter acordado para alguns problemas que os analistas no Brasil já chamavam atenção há bastante tempo.

    A S&P é a mais agressiva: colocou a nota brasileira em revisão e não descarta reduzi-la ainda este ano, apesar das eleições presidenciais. Moody's e Fitch assumem uma posição neutra, mas alertam para os riscos do aumento da dívida pública.

    O Brasil está hoje dois degraus acima do grau de investimento. Logo descer um nível não será uma tragédia, mas vai aumentar muito o nervosismo dos mercados e o pessimismo com o país. O resultado será saída de capitais e aumento dos custos de financiamento no exterior para as empresas brasileiras e para o Tesouro.

    O governo pode até desdenhar da avaliação das agências, que erraram feio por não prever a crise global de 2008, mas está apavorado com a possibilidade de corte do "rating" brasileiro. Prova disso é que o discurso do titular da Fazenda mudou brutalmente.

    Guido Mantega antecipou o resultado das contas públicas para acalmar os "nervosinhos" e disse publicamente que era o fim da "contabilidade criativa". Também afirmou diversas vezes que vai reduzir os repasses para o BNDES e fechar as torneiras de crédito para Estados e municípios.

    O ministro, que já se vangloriou de ser um "levantador de PIB", contrariou suas convicções e começou a elevar o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos automóveis, apesar de o país não dar sinais de que vai sair do anêmico crescimento de 2%.

    A preocupação da equipe de Dilma é clara: se o Brasil for rebaixado e ficar a um passo de perder o grau de investimento duramente conquistado, será um atestado de incompetência para o governo. E a oposição não vai perder a oportunidade de expor esse fracasso na campanha eleitoral.

    O problema é que essa briga não vai ser vencida no "gogó". Para evitar o corte da nota brasileira, os indicadores econômicos, particularmente o superavit primário (economia para pagar juros), vão ter que melhorar. Será que o governo realmente consegue gastar menos num ano eleitoral?

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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