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    Raquel Landim

    O que faz um país enriquecer?

    14/03/2014 07h30

    Existem quatro maneiras de uma pessoa ficar rica: herança, sorte, especulação ou trabalho duro. Ou seja, não é nada fácil. Para um país, a situação é ainda mais complicada, porque só tem um caminho: trabalho duro ou, no jargão econômico, melhorar sua produtividade.

    O padrão de vida de uma população avança quando seu PIB (todos os bens e serviços produzidos dentro daquele território) cresce e é possível distribuir essa riqueza. Uma mudança estrutural exige que isso ocorra por um longo período de tempo.

    Nos anos Lula, o Brasil parecia ter encontrado o caminho fácil para o crescimento através do crédito - um tipo de "especulação" saudável para a economia. Incentivado por reformas e pelos bancos públicos, o crédito explodiu.

    Com mais dinheiro circulando, milhares de pessoas foram incorporadas à força de trabalho, elevando o consumo e a produção. É como se o potencial adormecido do país tivesse despertado, ou como se finalmente o Brasil tivesse recebido sua "herança".

    E, é claro, o país também contou com a "sorte". Os chineses compraram toneladas e toneladas de minério de ferro para alimentar um dos maiores ciclos de investimento do mundo. Os preços das commodities subiram, trazendo bilhões de dólares aos países produtores de matérias-primas como o Brasil.

    Em meio a esse clima de otimismo, o país se esqueceu do "trabalho duro" - melhorar a produtividade da economia, ou a quantidade de bens e serviços gerados por trabalhador. Sem investimentos significativos em inovação, a produtividade cresceu cerca de 1% ao ano.

    "Sem o avanço da produtividade, o voo é curto", diz o Simão Davi Silber, professor de economia da USP (Universidade de São Paulo). Nos anos Dilma, o país estagnou e cresceu a uma média de 2% ao ano, um ritmo incompatível com uma melhora significativa do padrão de vida da população.

    O que aconteceu? As famílias atingiram o limite de endividamento. A mão de obra que estava ociosa foi totalmente incorporada no mercado. E as commodities chegaram no seu auge e não vão mais subir tanto. Ou seja, o milagre se desfez, porque acabaram a especulação, a herança e a sorte.

    Para enriquecer, restou apenas o trabalho duro. Está passando da hora de o Brasil arregaçar as mangas.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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