Se você não souber nada sobre o drama do setor de energia no Brasil e for se basear apenas no senso comum, sua resposta seria: muito mais, obviamente.
Afinal, a poderosa Eletrobras é responsável por grande parte dos sistemas de geração e transmissão de energia elétrica do país. A estatal é a holding controladora de Furnas, Chesf, Eletrosul, Eletronorte, CGTEE, Eletronuclear, além da metade da usina de Itaipu e empresas de transmissão.
Já as Lojas Renner são uma cadeia de lojas de roupas –uma das maiores e mais eficientes do Brasil, mas ainda assim opera num setor de capital investido infinitamente menor que os da Eletrobras.
Após a forte alta das ações na bolsa ontem, a Eletrobras vale apenas R$ 1,4 bilhão a mais que as Lojas Renner: a estatal terminou o dia com um valor de mercado de R$ 8,9 bilhões, comparado com R$ 7,5 bilhões da varejista. Só para dar um outro exemplo: a Localiza, que aluga carros, também não vale tão menos que a Eletrobras. No fechamento do mercado ontem, estava em R$ 6,8 bilhões.
A comparação é um choque. A distorção foi provocada pela renovação antecipada dos contratos das concessões de energia feita pelo governo Dilma em setembro de 2012, com o objetivo de baixar o preço da energia elétrica no País. A medida impôs pesadas perdas à Eletrobras, que foi obrigada a cortar investimentos e demitir funcionários. O mercado não perdoou.
Para ter uma ideia do tamanho do prejuízo: em junho de 2012, antes das medidas anunciadas por Dilma, a Eletrobras valia R$ 20,7 bilhões, quase três vezes mais que as Lojas Renner (R$ 6,9 bilhões) ou que a Localiza (R$ 6,1 bilhões).
Naquela época, o valor da estatal de energia era equivalente ao da Sabesp. Um ano antes, em junho de 2011, os investidores pagavam mais pela Eletrobras do que pela siderúrgica Gerdau.
E é sempre bom lembrar: o principal acionista da Eletrobras é o governo, ou seja, todos os brasileiros.
Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.