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    Raquel Landim

    O silêncio da Petrobras e a responsabilidade dos conselheiros

    04/04/2014 03h00

    A Petrobras se nega a prestar esclarecimentos sobre o funcionamento do seu conselho de administração. As perguntas são simples: - os conselheiros recebem cópia de todos os contratos que vão aprovar ou esses contratos ficam disponíveis para consulta? - com quanto tempo de antecedência esses contratos são entregues ou estão a disposição dos conselheiros?

    Essas respostas se tornaram vitais para esclarecer as responsabilidades dos envolvidos no nebuloso episódio da compra da refinaria de Pasadena, que pode ter causado um prejuízo de quase R$ 1 bilhão para a estatal. Mas, alegando que não vai se pronunciar até concluir a investigação do episódio, a Petrobras se esconde atrás de um "não comenta".

    Esse comportamento dá margem para dúvidas. Será que a Petrobras quer evitar constranger a presidente Dilma?

    Dilma detonou uma crise política ao afirmar que aprovou a aquisição de Pasadena com base em um resumo "técnica e juridicamente falho". Efetivamente, o resumo elaborado pelo ex-diretor da estatal, Nestor Cerveró, não continha cláusulas muitos importantes que beneficiavam os sócios da belga Astra.

    Na quarta-feira, o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse que os conselheiros receberam toda a documentação 15 dias antes da reunião que aprovou o negócio. Dilma e outros dois conselheiros (Fabio Barbosa, presidente do Grupo Abril, e Jorge Gerdau, presidente da siderúrgica Gerdau) negam. Outros não lembram ou não comentam.

    Executivos ligados a Petrobras dizem que é praxe deixar todos os documentos a disposição dos conselheiros. As clausulas constavam do acordo de acionistas, um documento fundamental para o negócio. Não era obrigação dos conselheiros pedir ao seus assessores jurídicos pessoais ou disponibilizados pela empresa para elaborar um resumo próprio? Só a Petrobras pode dizer se esse documento estava a disposição em tempo hábil.

    Sob a condição de anonimato, conselheiros experientes de grandes empresas dizem que é normal acreditar nas informações trazidas pela diretoria. É essa a conduta que se espera dos integrantes do órgão máximo de uma companhia, que tem a obrigação de zelar por todos os acionistas e não apenas por aqueles que a conduzem? E se houver má fé e corrupção naquela empresa? Vão assinar embaixo do que dizem os corruptos?

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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