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    Raquel Landim

    Rebelião contra Dilma no setor elétrico

    25/04/2014 03h00

    O temperamento difícil da presidente Dilma Rousseff é conhecido por aqueles que frequentam os gabinetes em Brasília. Dilma fica especialmente irritada com as críticas à condução do setor elétrico, no qual fez sua carreira.

    A presidente deve estar furiosa com a renúncia de três dos cinco conselheiros da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica). É a primeira vez que executivos do setor desafiam o governo, mesmo sem dar declarações polêmicas. A praxe entre eles é o silêncio para não contrariar Dilma.

    Luciano Freire, Paulo Born e Ricardo Lima eram os representantes do "mercado" na CCEE. Freire foi indicado pelos grandes consumidores, Born representava os distribuidores, enquanto Lima tem relações próximas com ambos os segmentos.

    Os dois conselheiros que restaram –Luiz Eduardo Barata e Antonio Machado– são ligados ao governo. A CCEE foi criada como uma entidade privada, para ajudar no funcionamento do mercado, mas na prática é "híbrida". Governo e geradores (grupo dominado pelas estatais) indicam o presidente e mais um representante.

    A renúncia coletiva dos conselheiros foi interpretada como um forte desconforto com o empréstimo bilionário que a CCEE assina hoje com os bancos para salvar as distribuidoras. Segundo fontes ouvidas pela coluna, o movimento não foi "orquestrado" e nem contra a operação em si, que aparece como única saída para evitar uma crise. Mas reflete o descontentando com a sequência de ingerências do governo.

    O rombo das distribuidoras foi provocado pela necessidade de comprar energia mais cara no mercado livre e pelo acionamento intensivo das usinas térmicas, provocado pela falta de chuvas. A "descontratação" das distribuidoras ocorreu porque Cemig, Copel e Cesp não renovaram suas concessões nas condições impostas por Dilma.

    No caso das térmicas, que produzem energia mais cara,o governo não pode ser culpado pela falta de chuvas. Mas, preocupado com as eleições deste ano, não incentiva a população a poupar energia em um momento de escassez. A própria opção de usar a CCEE para pegar um empréstimo também reflete a prioridade que as eleições ganharam, já que vale qualquer "engenharia" para evitar repassar o rombo das distribuidoras para a conta de luz este ano.

    A visão de experientes executivos do setor é que a CCEE se transformou em uma espécie de "laranja" do governo, já que o Tesouro não consegue mais arcar com esse ônus. E, como outros esqueletos podem estar escondidos no armário, quem garante que a utilização da CCEE acaba com a operação de hoje?

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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