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    Raquel Landim

    O legado do atraso

    02/05/2014 02h00

    Chegamos à reta final do mandato da presidente Dilma. Daqui para frente, é só Copa, eleições e CPI da Petrobras. Na economia, o mais provável é que a atuação do governo se restrinja a medidas pontuais, voltadas para apagar os incêndios que não podem esperar até depois de outubro.

    Ou então medidas eleitoreiras –como o reajuste do Bolsa Família e da tabela do IR (Imposto de Renda) anunciados no Dia do Trabalho– cujo objetivo imediato é reverter a maré ruim e garantir a reeleição. E daí que o setor público está com a corda no pescoço, sem dinheiro para fechar as contas no fim do mês?

    Já está na hora, portanto, de avaliar o legado de Dilma e comparar com seus antecessores. A disputa é dura para ela. Fernando Henrique e Lula foram presidentes que, cada um a sua maneira, transformaram o Brasil.

    FHC acabou com a hiperinflação, estabilizou a economia, criou as agências regulatórias, a lei de responsabilidade fiscal e todo o arcabouço necessário para o país prosperar. Lula trouxe para a classe média milhares de brasileiros que estavam excluídos, através do crédito e de programas sociais bem sucedidos.

    E Dilma?

    Ela pretendia ser a presidente que baixou os escorchantes juros da economia brasileira. Era uma promessa de campanha e seria o seu "Plano Real". Mas esqueceu que juro é instrumento, ao invés de objetivo. O resultado é uma inflação que ameaça perigosamente fugir da meta e juros nos mesmos patamares de quando assumiu.

    É bem verdade que as mudanças estruturantes de que o país precisa também foram negligenciadas por FHC e Lula: melhoria dos serviços públicos, investimentos em infraestrutura, reformas tributária, previdenciária e trabalhista, sem falar na urgente moralização da política. São temas espinhosos, mas felizmente chegamos num ponto em que não há mais como fugir.

    Dilma não fez nada disso. Passou quatro anos intervindo para atender o setor A ou B, tentando administrar "na marra" a inflação, os juros ou o preço da energia. O resultado é uma desorganização na economia e um clima de desconfiança entre os investidores que trava o crescimento.

    Quem vai esquecer de quando o ministro Guido Mantega ligou para os prefeitos e pediu que segurassem o reajuste da tarifa de ônibus para não elevar a inflação? Ficou aquele gosto amargo na boca porque não acreditávamos que o Brasil ainda fosse assim. Desse ponto de vista, o legado de Dilma é, sem dúvida, o do atraso.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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