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    Raquel Landim

    Rasgaram as metas de inflação

    DE SÃO PAULO

    30/05/2014 11h31

    Com o PIB crescendo apenas 0,2% no primeiro trimestre conforme revelou nesta sexta-feira (30) o IBGE, o Banco Central interrompeu a alta da taxa básica de juros da economia. Segundo comunicado da instituição, a decisão foi tomada "neste momento", o que significa que o aperto monetário pode recomeçar no ano que vem.

    Os juros são o principal instrumento à disposição do BC para controlar a inflação. O efeito é o seguinte: o aumento dos juros encarece o crédito, desincentivando o consumo e o investimento e "esfriando" a economia. Com menos "combustível", a inflação tende a desacelerar.

    A explicação oficial para a "parada técnica" é que o BC vai aguardar os efeitos do aumento de 3,75 pontos porcentuais já promovido, um dos maiores da história, sobre a atividade e sobre os preços. Se não for suficiente, voltará a carga. Faz sentido?
    Depende. Qual é a meta de inflação do BC? Qual é a meta de crescimento do BC?

    Os preços dos alimentos e outras commodities recuaram. Esses produtos são cotados em dólar e, a medida que a moeda americana se valorizou, ficaram mais baratos em reais. A inflação deve estourar o teto da meta de 6,5% nos próximos meses, mas voltar um pouco no final do ano.

    A expectativa é que o IPCA (índice de preços ao consumidor) termine o ano pouco acima de 6%. Em 2015, a tendência é de nova alta por conta da série de reajustes "represados" pelo governo na gasolina, na energia elétrica e no transporte público para não desagradar os eleitores.

    Se o objetivo do BC é manter a inflação abaixo de 6,5% sem prejudicar ainda mais a atividade, a escolha foi correta. O PIB dá sinais de que não fecha o ano acima de 2%. Nesse primeiro trimestre, as famílias consumiram menos e os investimentos desaceleraram, num claro sinal de falta de confiança nos rumos da economia.

    Agora, se o objetivo do BC é trazer a inflação de volta ao centro da meta de 4,5%, realmente não dá para entender. Nem o BC e nem ninguém sabe como será a inflação no ano que vem, porque vai depender de quanto o novo presidente estará disposto a reajustar os preços administrados. Mas ninguém duvida de que a tendência é só uma: para cima.

    "Essa decisão do BC só faz sentido se rasgaram de vez o regime de metas e estão satisfeitos que a inflação não supere 6,5%", diz Mônica de Bolle, economista-chefe da Galanto Consultoria. O regime de metas, criado em 1999 para estabilizar o país depois que o câmbio fixo estourou, estabelece que a tarefa do BC é perseguir uma inflação de 4,5%, com 2 pontos porcentuais de tolerância.

    O argumento BC do governo Dilma, comandado por Alexandre Tombini, é que a convergência para a meta virá no "médio prazo". Dizem isso desde o início do mandato e ninguém acredita mais. Tanto que o mercado em peso esperava que o BC interrompesse a alta de juros. Enquanto isso, a inflação brasileira vai perigosamente subindo um degrau de cada vez, sem qualquer contrapartida de mais crescimento.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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