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    Raquel Landim

    O mau humor com a economia

    06/06/2014 09h57

    Já faz tempo que o clima entre o empresariado brasileiro e o governo Dilma Rousseff é péssimo. Esse setor tradicionalmente não simpatiza com o PT, mas estava bem feliz nos anos Lula, ganhando dinheiro como nunca. Agora, com a economia estagnada, é praticamente impossível encontrar um empresário que defenda a presidente.

    Em conversas reservadas, executivos de multinacionais contam que não conseguem convencer as matrizes a investir no Brasil, porque as vendas estão em queda e não há perspectiva de melhora. Ninguém acredita que, se vitoriosa nas eleições de outubro, Dilma vai realizar o ajuste fiscal necessário para recuperar a credibilidade e o país voltar a crescer. Sem investimentos, cria-se um ciclo vicioso.

    Até agora o mau humor estava restrito ao "andar de cima", que já vota maciçamente no candidato da oposição Aécio Neves. Mas a pesquisa Datafolha trouxe um dado surpreendente. A proporção de brasileiros que acredita que a situação econômica do país vai piorar atingiu 36% e, pela primeira vez, superou aqueles que apostam que tudo fica como está (32%) e os que defendem que a economia vai melhorar (26%).

    As pessoas estão cada vez mais assustadas com a inflação, que deu uma trégua recentemente, mas continua corroendo a renda dos mais pobres. A taxa de desemprego segue em seus níveis mais baixos, mas o velho fantasma voltou a assombrar. Metade da população acha que o desemprego vai aumentar.

    As férias coletivas concedidas nos últimos meses pelas montadoras, cujos pátios estão abarrotados de veículos, seguramente ajudam a piorar a percepção das pessoas sobre o emprego. As empresas relutam em demitir, porque está difícil encontrar mão de obra qualificada, mas vão chegando perigosamente perto do limite.

    O empresariado é sempre o primeiro a ficar insatisfeito com os rumos da economia e as perspectivas ruins vão contaminando a pirâmide. Quando chegam a base, a insatisfação toma conta e é hora de mudar o governo. Parece que ainda não é o caso do Brasil: somados, o porcentual de pessoas que acreditam que a economia fica igual ou vai melhorar chega a 58%.

    Para um experiente economista, com vivência de governo, Dilma vai dobrar a aposta no modelo desenvolvimentista que vem adotando num eventual segundo mandato, o que vai deteriorar a situação do país gradualmente. No final de quatro anos, o mau humor chegaria a maior parte da população, tirando o PT do poder após 16 anos.

    Se já está difícil estimar o que vai acontecer no mês que vem, imagina daqui a quatro anos, mas pode ser que ele esteja certo. Por enquanto, não se vislumbra mudança de governo este ano. Dilma é líder nas pesquisas de intenção de voto e o tempo até outubro é curto. Mas, no meio do caminho, teremos greves, protestos e uma Copa do Mundo em casa... Tem muita gente que se pergunta hoje: o que vai acontecer na eleição se o Brasil perder a taça?

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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