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    Raquel Landim

    Dilma cala a indústria

    20/06/2014 02h00

    A presidente Dilma Rousseff conseguiu um feito esta semana: calou uma parte importante dos seus críticos, adotando um "pacote de bondades" praticamente sem abrir a carteira. As medidas anunciadas vão beneficiar principalmente a indústria, que tem sido um dos setores mais descontentes com o governo.

    Sem espaço para fazer novas desonerações por conta da queda na arrecadação e da gastança que promoveu, Dilma optou por medidas que deixam a conta para 2015 –ou seja, para o próximo governo, seja ela reeleita ou não. A presidente prometeu que vai renovar o PSI (Programa de Sustentação do Investimento) em 2015 e tornou permanente a desoneração da folha de pagamento.

    As duas medidas juntas custam aos cofres públicos mais de R$ 100 bilhões. O argumento do governo é que já estão no orçamento deste ano e, portanto, não vão significar mais gastos no que vem. Mas tampouco sinalizam uma vontade de economizar.

    Também foi anunciado a volta do Reintegra, que devolve parte dos impostos aos exportadores, ainda neste ano. O valor, no entanto, é irrisório. O Reintegra, que custava R$ 3 bilhões por ano antes de ser extinto, ficará em R$ 200 milhões. Duvido que esse montante dê competitividade aos produtos do Brasil no exterior.

    Os empresários reclamam que perderam a confiança no governo. Dizem que é por isso que o país não cresce e que eles não investem. Na quarta-feira à noite, após o anúncio das medidas, o discurso já era outro. Afirmavam que as medidas não são suficientes para mudar a situação do país, mas mostram que a presidente está "atenta ao curto prazo", que "também é muito importante".

    O pacote de Dilma tem o mérito de tornar o ambiente de negócios mais previsível, já anunciando hoje o que vai acontecer em 2015, ao invés de deixar tudo para o fim do ano, como é praxe no Brasil. No entanto, possui o mesmo problema que está no DNA do atual governo: são medidas pontuais, que passam longe de uma reforma.

    No último mês, Dilma se reuniu três vezes com mais de 30 representantes de associações e federações industriais. A presidente, que era criticada por não receber a indústria, cumprimentou um a um. Ou seja, a "gerente" Dilma fez política e parece que deu certo.

    Não será suficiente para que os empresários, que estão em massa com o candidato da oposição Aécio Neves, mudem seu voto. Mas certamente eles não vão mais falar tão mal do governo –certamente não em público. Afinal, todo mundo gosta de um afago.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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