• Colunistas

    Friday, 03-May-2024 06:10:39 -03
    Raquel Landim

    O recado do BC

    25/07/2014 10h51

    O Banco Central não poderia ter sido mais explícito. Em documento divulgado ontem, informou que "a estratégia não contempla redução do instrumento de política monetária".

    Ou seja, não vai reduzir os juros.

    O recado é para fora e para dentro do governo. Assessores presidenciais, preocupados com os efeitos da desaceleração da economia na reeleição da presidente, defendiam nos corredores de Brasília que o BC devia cortar os juros.

    O mercado, já acostumado a uma autoridade monetária que cede aos apelos do Planalto, começou a apostar numa queda da taxa Selic, o que poderia piorar as expectativas de inflação. O BC fez questão de mostrar que errariam feio.

    Não faz sentido cortar juros com a inflação acumulada em 12 meses ultrapassando o teto da meta de 6,5%. A decisão de interromper o aperto monetário com esse nível de aumento nos preços já foi uma afronta ao sistema de metas de inflação.

    Mas o BC pagou hoje um pedágio pela decisão: reduziu o nível de depósito compulsório dos bancos, liberando mais dinheiro para emprestarem. É o famoso tirar com uma mão e dar com a outra: esfria a economia de um lado e aquece de outro.

    Vai adiantar? É provável que não dado o baixo apetite dos bancos por conceder crédito e, principalmente, das famílias para tomar mais dívidas.

    A economia está realmente muito fraca e é bem provável que o PIB tenha encolhido no segundo trimestre - uma situação delicada para Dilma explicar às vésperas da eleição, que será utilizada pela oposição.

    O aperto monetário feito pelo BC é um dos responsáveis por parte dessa desaceleração, mas está longe de ser o único. A falta de credibilidade da política fiscal, a incerteza gerada pelo intervencionismo do governo, e a paradeira provocada pela Copa e pelas próprias eleições são fatores tão ou mais importantes.

    O fraco crescimento da economia é responsabilidade do Planalto e do ministério da Fazenda. A missão do BC é controlar a inflação.

    É urgente mudar o rumo da política fiscal para ajudar na tarefa de colocar a economia de volta aos trilhos. Mas quem quer fazer a lição de casa quando é mais fácil passar o problema para frente?

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024