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    Raquel Landim

    O calote e os taxistas de Buenos Aires

    01/08/2014 02h00

    No caminho do aeroporto de Buenos Aires até o hotel, perguntei ao taxista qual era a sua opinião sobre o calote da Argentina.

    "Não entendo nada de economia, mas para um homem comum não parece certo impedir que alguém pague sua dívida. É uma ingerência."

    Na quarta-feira, a Argentina entrou em "default técnico", porque a justiça americana não permitiu que o país pague uma parcela de sua dívida, enquanto não resolver a situação dos "fundos abutres".

    Esses fundos compraram os títulos na bacia das almas, não aceitaram o desconto de 70% proposto pelo governo argentino, e ganharam na Justiça o direito de receber integral.

    No início da tarde, tomei outro táxi para chegar a um encontro com um economista e tornei a perguntar: qual é a sua opinião sobre o calote?

    "O governo Kirchner riu da Justiça americana. Foram irresponsáveis e não negociaram isso seriamente. Agora vamos pagar o preço", disse meu condutor.

    Ele contou o outro lado da história. Durante anos, Néstor Kirchner e sua mulher e sucessora, Cristina, disseram que não iam respeitar a Justiça dos Estados Unidos e que não iam pagar um centavo.

    Até que o juiz Thomas Griesa cansou e "colocou a faca no pescoço", deixando a Argentina nessa insólita situação. Ou resolvem a pendência com os "abutres" ou novamente dão o calote.

    Nesta semana, Cristina preferiu continuar batendo de frente ao recusar algumas opções para resolver o problema. Ao invés de trazer o país de volta aos mercados internacionais, continuou na briga.

    Só consegui entender qual foi sua motivação depois de assistir ao discurso de mais de duas horas que ela fez ontem à noite, atacando os "abutres" e a "Justiça ianque", para uma plateia entusiasmada da juventude kirchnerista.

    "Senti muita falta de vocês", disse Cristina assim que chegou ao púlpito de um pátios da Casa Rosada –tal qual uma mãe fala com seus filhos. A presidente não sabe viver sem esses aplausos e parece disposta a arriscar todo o resto.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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