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    Raquel Landim

    Rumo ao abismo

    22/08/2014 02h00

    Se Dilma for reeleita, o que podemos esperar do segundo mandato na economia? Infelizmente, mais do mesmo. Pelo menos é isso que sinalizam as medidas adotadas recentemente.

    O Brasil vive uma complicada estagflação, com previsão de PIB abaixo de 1% e com inflação perto de 6,5%, apesar da falta de reajuste da gasolina e da energia. Ainda assim, a presidente segue apostando nos remédios que adotou ao longo de todo o seu mandato: estímulo ao consumo e medidas de apoio à indústria.

    Nesta semana, o Banco Central voltou a afrouxar as regras para liberar mais dinheiro para os bancos emprestarem, principalmente para a compra de carros e imóveis.

    Dois meses atrás, Dilma anunciou aos empresários mais um "pacote de bondades" composto de medidas setoriais, cuja maioria só vai valer no ano que vem por causa do caixa apertado do governo.

    Qual vai ser o efeito dessas medidas? Os analistas apostam que perto de zero. Pouco adianta estimular o crédito porque as famílias já estão muito endividadas. No caso da indústria, o problema de competitividade é grave e não se resolve com medidas paliativas.

    O que a equipe econômica parece não perceber, apesar dos últimos quatro anos de tentativas, é que suas medidas provocam o efeito contrário.

    O estímulo ao crédito vai na contramão do esforço de subir os juros, deixando o mercado inseguro da capacidade do governo de controlar a inflação. Desonerações setoriais, por sua vez, comprometem o resultado fiscal já muito deteriorado.

    Tudo isso joga contra a reversão de expectativas necessária para retomar o investimento –condição para voltar a crescer com maior oferta de bens a preços competitivos, o que é fundamental para reduzir a inflação.

    O pior disso tudo é que a presidente e sua equipe acreditam que estão no rumo certo. Dilma aposta que a inflação está controlada e que chegamos num momento de inflexão da economia. É o discurso repetido há meses e meses pelo ministro Guido Mantega.

    O que mais precisa acontecer para eles se convencerem de que rumamos para o abismo? O único ponto resiliente da economia é o mercado de trabalho. Os sinais já são inquietantes, mas os empresários ainda não preveem demissões em massa. É um alento, mas até quando?

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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