Alguns brasileiros preferiam não serem obrigados a votar do que ter que fazer a insuportável escolha entre Dilma Rousseff e Aécio Neves no dia 26 de outubro.
São os órfãos do PT. Gente que desde 1989, quando ocorreram as primeiras eleições depois da ditadura, apertava 13 na urna sem medo de errar. Até agora.
Essas pessoas viram seu partido afundar num mar de denúncias de corrupção, desde a compra de apoio da base aliada até a cobrança de propina nos contratos da Petrobras.
É possível utilizar o cínico argumento de que "todos" os partidos fazem caixa 2. Só que o PT representava a ética na política. Depois de tudo que ocorreu, a frase parece descabida.
Dilma argumenta que é honesta e que expulsou os corruptos da Petrobras. Ela pode até ter acabado com o esquema que funcionava por lá, mas não puniu os responsáveis. Aceitou que eles saíssem numa boa e continuassem recebendo os "acertos" que faltavam.
Se na política o clima é de decepção, na economia, o receio é de catástrofe. A política protecionista de Dilma e seu preconceito contra o lucro privado representam o legado do atraso e condenam o país a um crescimento medíocre. Os mais otimistas acreditam que a presidente se renderá ao pragmatismo. Aqueles que conhecem sua personalidade duvidam.
O problema é que, para os órfãos do PT, votar em Aécio Neves é doloroso, não só pelo perfil de "playboy" do candidato. O PSDB se afastou de suas origens e dos ideias defendidos por Mário Covas e hoje está aliado as forças mais conservadoras do Brasil.
A relutância de Aécio em abrir mão da redução da maioridade penal para conseguir o apoio de Marina Silva é uma prova desse conservadorismo. E isso em um país de uma justiça tão falha quanto a nossa.
E por mais que o candidato martele na tecla de que o Plano Real melhorou a vida da população, o que é verdade, o PSDB tem pouco a apresentar na área social. Suas políticas são erráticas, porque nunca foram prioritárias. Qual é o grande nome do PSDB nessa área? Dá para entender porque os órfãos do PT estão preocupados com um retrocesso.
Esse grupo de desiludidos, que no primeiro turno se apoiou na promessa de "nova política" de Marina, vai para a urna no segundo turno tampando o nariz. É é possível que sua escolha entre "o menos pior" decida a eleição.
Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.