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    Raquel Landim

    No limite da irresponsabilidade

    31/10/2014 11h20

    Não demorou nem uma semana.

    As " surpresas desagradáveis" que estavam guardadas para depois das eleições, e que já discutimos nesse espaço antes do pleito, começaram a acontecer: aumento de juros, racionamento de água, contas públicas no vermelho. E prepare-se: vem muito mais por ai.

    Hoje ficamos sabendo que o Tesouro Nacional passou a ser deficitário pela primeira vez desde o Plano Real, ou seja, precisou se endividar para pagar suas contas. O rombo é de R$ 15,7 bilhões. Por que será que o governo Dilma atrasou a divulgação desse número para depois das eleições?

    Na última quarta-feira, o Banco Central pegou o mercado de surpresa e deu uma guinada na política monetária, subindo os juros. Não estou criticando a medida. A economia está estagnada, mas com a inflação batendo no teto da meta de 6,5%. Sem a ajuda da política fiscal para reduzir os gastos, não resta alternativa ao BC.

    A questão é o timing. Não teria sido mais correto se a candidata tivesse deixado claro essa possibilidade? Teoricamente a presidente não manda no BC. Mas sua postura na campanha foi criticar seus adversários –Aécio e Marina– quando ambos diziam que o BC precisava de independência e que um ajuste é necessário.

    E, quando digo que vem mais por ai, não é retórica. O conselho da Petrobras está reunido agora e pode reajustar a gasolina. A enorme conta do setor elétrico foi "pendurada" para depois das eleições e daqui a pouco vai chegar nas nossas casas. Com as contas públicas totalmente desajustadas, muitos já falam em aumento da carga tributaria.

    Mas não sejamos injustos: hipocrisia pré-eleitoral não é monopólio do PT. Bastou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) vencer as eleições em primeiro turno para começar a falta água nas torneiras de várias regiões de São Paulo durante o dia e até no fim de semana. Reportagem da Folha revelou áudio em que a presidente da Sabesp admite que não alertou a população como deveria por decisão de seus superiores.

    Não é a primeira vez que políticos deixam medidas impopulares guardadas na gaveta para depois das eleições. Infelizmente isso já se tornou praxe em nosso país, mas a pressa com que os governos federal e estadual correm para corrigir seus erros mostra que eles agiram no limite da irresponsabilidade.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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