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    Raquel Landim

    Doleiros e empreiteiros

    12/12/2014 02h00

    No Brasil dos anos 80, a cotação do dólar "black" era divulgada pelos principais órgãos de imprensa e cidadãos honestos recorriam ao mercado paralelo para adquirir divisas.

    Os doleiros praticavam uma atividade ilegal, mas não só eram aceitos pela sociedade como frequentavam os círculos mais elitizados: jogavam golfe na Gávea no Rio e nadavam no clube Pinheiros em São Paulo.

    Hoje a situação parece absurda, mas era assim que as coisas funcionavam. Com o tempo, tudo mudou. O país evoluiu, estabilizou e o mercado negro de câmbio deixou de fazer sentido.

    Muita gente das construtoras está reclamando do resultado da Operação Lava Jato com o mesmo argumento daquela época: por que investigar corrupção em contratos públicos se é assim que as coisas funcionam e todo mundo sabe disso?

    O juiz Sérgio Moro, os delegados da Polícia Federal e os procuradores do Ministério Público estão fazendo história ao investigar, prender e indiciar alguns dos maiores empreiteiros do país.

    Hoje estão na cadeia preventivamente e podem ir para o banco dos réus homens que com um telefonema seriam recebidos por qualquer prefeito, governador e presidente da República nas últimas décadas.

    Não é mais ilusão pensar que, como os doleiros de antigamente, essas figuras vão perder poder, e, como o dólar "black", as "comissões" cobradas em obras públicas vão deixar de ser aceitas como inevitáveis.

    Também é bem provável que empresários honestos se interessem em fazer negócios com o setor público no futuro já que não serão mais obrigados a pagar propina. Se tudo isso realmente ocorrer, será um avanço incrível para o Brasil.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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