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    Raquel Landim

    Alô esquerda, como se sente?

    01/01/2015 02h00

    Passado o Ano Novo, já começa a contagem regressiva para o Carnaval. Com o novo ministério que toma posse hoje, uma marchinha de sucesso da folia de 2015 bem que poderia ser assim: "Alô esquerda, como se sente? Votar na Dilma e eleger Aécio presidente".

    Joaquim Levy (Fazenda), Armando Monteiro (Desenvolvimento), Kátia Abreu (Agricultura), Gilberto Kassab (Cidades), Cid Gomes (Educação), Eduardo Braga (Minas e Energia), George Hilton (Esportes) –um time em ministérios chave que poderia fazer parte de qualquer governo tucano.

    A gritaria de colunistas e políticos de esquerda foi geral: "uma bofetada", "uma equipe econômica afinada com a banca", "símbolo de políticas antipopulares", "governo conservador". Mas não consegui entender o porquê da surpresa.

    Não era segredo que Kátia Abreu seria ministra. No meio da campanha eleitoral, a indicação era favas contadas no setor agrícola devido à amizade entre ela e a presidente.

    Tampouco era novidade que Kassab ocuparia uma cadeira na Esplanada. No primeiro turno da eleição, o ex-prefeito acompanhou o vice-presidente Michel Temer até a urna e sua indicação era comentada entre os políticos e jornalistas presentes.

    Também já faz tempo que Dilma procurava alguém capaz de melhorar sua interlocução com o setor privado para a pasta do Desenvolvimento. Depois de perder o governo de Pernambuco, Monteiro, ex-presidente da confederação da indústria, aceitou a dura missão.

    Cid Gomes, George Hilton e Eduardo Braga são apenas mais um sinal de que o PT cedeu faz tempo, mas muito tempo, ao jogo político tradicional.

    A única surpresa foi Levy. Ex-Bradesco e um liberal convicto, efetivamente é uma escolha ousada para quem passou a campanha dizendo que o adversário entregaria o país aos banqueiros e tiraria a comida da mesa dos pobres. Mas, com a economia em frangalhos, é ótimo que a presidente tenha cedido.

    A massa da população, que consome a propaganda dos marqueteiros nas eleições, pode até ter sido surpreendida com a escolha dos novos ministros. Mas políticos, líderes sociais e comentaristas que apoiaram tenazmente Dilma na campanha sabiam muito bem onde estavam pisando.

    O novo ministério de Dilma é fraco e todo mundo tem o direito de reclamar, mas não faz sentido esse pessoal encarnar o papel de amante traído, porque nada disso era desconhecido para eles. E, principalmente, porque votariam e defenderiam Dilma de novo se a eleição fosse hoje.

    Para uma parcela dos eleitores, votar no PT já virou uma crença, algo próximo de uma religião, porque esse partido "seria o único ao lado dos pobres e oprimidos".

    Em 2003, muitos chegaram a sonhar com isso. Mas, em 2014, passado o mensalão e iniciado o petrolão, perdeu completamente a graça. Já está mais do que provado que nenhum partido ou grupo político detém o monopólio da virtude e que sem uma reforma política o país não vai para frente.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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