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    Raquel Landim

    Sem pai nem mãe

    06/03/2015 11h05

    O ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy (Fazenda) está órfão de apoio político no Congresso. Ficou sem pai nem mãe e passou a apanhar de todos os lados.

    A rebelião do PMDB - que mandou de volta para a presidente Dilma a revisão das medidas de desoneração da folha de pagamento - é só o aspecto mais gritante disso.

    O PMDB não é necessariamente contra o ajuste fiscal. Está praticando a pressão irresponsável típica dos partidos brasileiros sobre o governo. Mas tampouco apoia as medidas.

    O pior é que nem o PT, o partido que está no governo há 12 anos, assumiu a paternidade do ajuste e age em sua defesa.

    Em entrevista à Folha, Levy afirmou que a presidente Dilma apoia totalmente o ajuste. Ele não poderia dizer outra coisa, mas isso está longe da verdade.

    Até hoje Dilma se dedicou apenas a repreender sua equipe econômica. Não os defende publicamente. Os partidos políticos se aproveitam disso para aumentar a pressão e abrir o balcão de negócios.

    Pior ainda: Dilma não explica o ajuste fiscal à população por inaptidão política ou por incapacidade de reconhecer seus próprios erros, que fizeram ser necessária uma guinada tão forte da política econômica.

    Os empresários já estão inquietos e o ajuste fiscal começa a perder apoio da opinião pública. Com os investimentos parados por causa da confusão armada pela Operação Lava Jato, o temor é que um ajuste tão duro quanto o de Levy jogue a economia numa profunda recessão.

    E as coisas ainda podem piorar. Nos próximos meses, as empresas devem demitir mais, principalmente na construção civil. Além disso, o "tarifaço" de energia promovido pelo governo vai corroer o poder de compra da população.

    "Podemos estar perto de uma convulsão social para pagar os equívocos dos últimos quatro anos", diz a economista Monica de Bolle. "O importante, no entanto, é não demonizar o ajuste fiscal, porque sem isso vamos perder o grau de investimento e o dólar vai a R$ 5".

    Uma das profissionais mais respeitadas do país, ela provavelmente está certa. Mas sem uma liderança política que inspire confiança vai ser difícil convencer a população brasileira que um remédio tão amargo é a única solução.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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