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    Raquel Landim

    Levy, o terrível

    17/04/2015 02h00

    Sempre tão acostumados a receber benesses públicas, os empresários estão com "medo" de ir ao ministério da Fazenda em Brasília. Em conversas reservadas, comentam que não apenas não conseguem o benefício que estão pleiteando, como o ministro Joaquim Levy encontra alguma outra vantagem daquele setor que precisa ser cortada.

    Levy acabou com o balcão de negócios que havia se tornado regra no governo Dilma. O titular anterior da pasta, Guido Mantega, incentivava o toma lá dá cá e considerava a distribuição de incentivos para alguns setores escolhidos como política anticíclica para combater os efeitos da crise global.

    Colocado no cargo com a espinhosa missão de corrigir os erros de seu antecessor, Levy tem dito a auxiliares e até a representantes de outros ministérios que não inventem maneiras de gastar, mas de economizar.

    O ministro tem motivos de sobra para a rigidez na política fiscal, porque sua vida não está fácil. Além das batalhas diárias num Congresso conflagrado para aprovar as medidas do ajuste, as contas não fecham.

    Segundo Fernando Montero, economista-chefe da Corretora Convenção e um dos principais especialistas em contas públicas do país, o governo vai precisar de uma verdadeira "ofensiva tributária" para entregar a meta de superávit primário (economia para pagar juros da dívida).

    Mesmo que o ministro consiga um corte de R$ 80 bilhões nas despesas do orçamento, vai faltar dinheiro. Seria necessário que a arrecadação da Receita Federal crescesse 4,2% já descontada a inflação, algo muito difícil em um ano de recessão econômica.

    Os aumentos de impostos anunciados até agora pelo governo apontam um crescimento de 1% na arrecadação. Ou seja, o pacote de maldades ainda não acabou e a carga tributária vai subir mais.

    O ajuste é extremamente necessário para colocar a casa em ordem e não perder o grau de investimento das agências de classificação de risco, o que desvalorizaria ainda mais o real, corroendo o poder de compra das pessoas e gerando mais inflação.

    Mas o caminho não será fácil, nem para as empresas, muito menos para os trabalhadores. A boa notícia é o fim do balcão de negócios. Só que é necessário não exagerar sob risco de sufocar o setor produtivo. O diagnóstico do ministro está correto, mas a dosagem do remédio é o mais difícil.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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