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    Raquel Landim

    Corrupção em metástase na Petrobras

    07/08/2015 10h06

    Já discuti nesse espaço recentemente a ineficiência da Petrobras, um gigante com 446 mil funcionários - 80% admitidos sem concurso - que teria inchado com a contratação de afilhados políticos que muitas vezes não fazem rigorosamente nada.

    Na época, argumentei que nenhuma empresa pode ser bem administrada com meio milhão de colaboradores e que, uma vez identificado o câncer da corrupção pela Operação Lava Jato, a empresa precisava focar na gestão e começar uma cruzada contra essa ineficiência.

    Eu estava enganada. A última fase das investigações mostrou que o câncer de corrupção da Petrobras está em metástase. O inchaço da empresa, que emprega muito, mas muito mais pessoas do que os concorrentes, não foi resultado apenas de apadrinhamento político. É também corrupção pura e simples.

    A Petrobras contratou tantos funcionários terceirizados porque figuras ligadas ao Partido dos Trabalhadores ficavam com uma parte dos bilionários contratos das empresas que recrutavam essas pessoas.

    Segundo os procuradores da Operação Lava Jato, empresas como Hope Recursos Humanos (profissionais diversos), Personal Service (serviços de limpeza) e Consist (serviços de informática) repassavam parte dos valores recebidos por seus contratos bilionários para Renato Duque, ex-diretor de Engenharia da Petrobras, e seu padrinho político, José Dirceu, o ex-ministro mais poderoso do governo Lula. No caso da Hope, o percentual de propina era de 3% do valor do contrato.

    Dificilmente apenas Duque e Dirceu eram os únicos a usufruir do butim. Na área de comunicação, que foi comandada por anos por Wilson Santarosa, ligado ao sindicato dos petroleiros e também homem forte do PT, a Petrobras emprega 1.146 pessoas, o dobro do time da Shell nos 70 países em que atua, conforme revelado por esta Folha. Mais de metade dessas pessoas são terceirizados contratados pelas mesmas Hope, Personal e etc.

    Alguns dos contratos com essas empresas ainda estão em vigor. Comprovada a denúncia do Ministério Público, é urgente romper esses contratos e promover uma ampla reforma administrativa na Petrobras, aproveitando os bons profissionais e demitindo os ruins, colocando um fim a esse cabide de empregos.

    Não é uma medida fácil de adotar naquela que já foi a maior empresa brasileira em um país que sofre com uma recessão. Mas sem isso a Petrobras não vai conseguir limpar essa corrupção e se tornar verdadeiramente competitiva. É a coisa certa a fazer.

    raquel landim

    Jornalista formada pela USP, escreve sobre economia e política às sextas-feiras.

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